As crianças sempre sabem tudo. Sabiam, por exemplo, da intromissão por vezes ruidosa da Princesa Cíntia e muito se incomodavam, não sem razão, com ela. Demorei demais, mesmo lendo coisas de Psicanálise, para saber que (sobretudo) as meninas dividirem (quando não disputarem mesmo) o amor do pai com a mãe já era o máximo a que podiam suportar sem grandes alardes, mas dividi-lo com uma terceira era demais!
Pois justamente após o dia 10 de Novembro, logo após, a Bia me veio perguntar pela Princesa Cíntia colorindo a melodia da voz com a costumeira truculência do corpo, com alguma malícia já sensual e com espessas tintas de ciúme. Eu respondi com uma pergunta:
- Porque você acha que eu estou de preto? Estou de luto: ela morreu.
Com riso maroto, a Bia me pediu o telefone dela.
- Mas ela está morta!
- Mas eu quero o teleone dela.
- Mas você vai ligar e ninguém vai atender!
- Mas eu quero ligar, mesmo asim.
Não queria. Depois de conseguir o exato número do telefone da Princesa Cíntia (que aliás "agora que voltou tudo ao normal, talvez consiga ser menos Rainha e um pouco mais real"), apenas com a troca de um 1 por um 0, a Bia foi mostrar o número para a Diane, como acusasse minha traição, dizendo que ela era a minha namorada. Agora, sim, que finalmente a terceira havia falecido, a Bia se sentia no direito de revelar meus adultérios. Obs: ela, que sempre pareceu tão sem limites, neste caso, por exemplo, conseguiu esperar silenciosamente por meses - muitos de nós não conseguem esperar.
A Diane estava sentada, rendida por um longo cansaço. Levantou-se. Atravessou a sala toda com seus passos altaneiros e perguntou pra mim, calmamente, apesar de nitidamente ofendida, quem é esta tal de Cíntia? é sua namorada?
Jamais saberei, a Diane saberá?, quantos dicionários correram pelos meus lábios, quantas mil e uma noites, antes que eu pudesse dar uma resposta definitiva. Respondi que não era ninguém, que era ficção. Em seguida, a Diane quis esconder o ciúme, disse que perguntava porque sua chefe da outra escola se chamava Cíntia e que temia precisar ligar pra ela por alguma razão. Eu deixei a Princesa Cíntia escapar dos seus reinados e neguei sua existência. Não podia falar da sua morte - pra falar de morte, é preciso falar de vida...
Homem não presta.
(Gu)
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
da manhã seguinte
gosto de sentir o gosto da água fria pela manhã
nas minhas mãos;
lavar a louça do jantar, as taças do vinho...
que não quisemos lavar
e sequer esvaziar.
te acordar, pão quente e café na cama.
gosto de sentir-me vivo
com o gosto de água fria nas mãos
de manhã
e me banhar com o teu beijo de bom-dia.
(biel)
nas minhas mãos;
lavar a louça do jantar, as taças do vinho...
que não quisemos lavar
e sequer esvaziar.
te acordar, pão quente e café na cama.
gosto de sentir-me vivo
com o gosto de água fria nas mãos
de manhã
e me banhar com o teu beijo de bom-dia.
(biel)
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Excerto de relatório de estágio: Dezembro
Eu estava sentado junto ao violão, concentrando a mim mesmo, a minha voz e o violão, para, enfim, render minha última homenagem do ano à minha bem-amada Diane, cantando uma canção. Ela chegou na escola. A concentração de nós três quase que foi totalmente pro saco. Mas ficamos firmes em nosso cantinho, esperando que ela se aproximasse.
Ela tardou... tardou... até a concentração tinha voltado já...
Eis que ela chega, com seus passos leves e lentos de quem sabe que cada seu passo moreno é um acontecimento, é um milagrezinho, e que deve, portanto, acontecer sempre de repente e sempre vagarosamente, pra poder ocupar cada pedaço do coração; ela chega e me entrega um presente de fim de ano.
Fiquei atônito!
Eu jamais poderia esperar!
Aí, sim, foi totalmente pro saco a nossa concentração.
O presente era um(a) champagne e um panettone.
Depois até toquei e cantei a canção, mas qualquer coisa seria muito pouco diante deste gesto tão lindo.
À noite, em casa, corri para o quarto, para sentir na boca o gosto de ser amado: comi um pouquinho do panettone, sempre muito pouquinho e tanto mais demoradamente que os passos da Diane.
Beijos de uva passa cristalizada e taças pela madrugada...
(Gu)
Ela tardou... tardou... até a concentração tinha voltado já...
Eis que ela chega, com seus passos leves e lentos de quem sabe que cada seu passo moreno é um acontecimento, é um milagrezinho, e que deve, portanto, acontecer sempre de repente e sempre vagarosamente, pra poder ocupar cada pedaço do coração; ela chega e me entrega um presente de fim de ano.
Fiquei atônito!
Eu jamais poderia esperar!
Aí, sim, foi totalmente pro saco a nossa concentração.
O presente era um(a) champagne e um panettone.
Depois até toquei e cantei a canção, mas qualquer coisa seria muito pouco diante deste gesto tão lindo.
À noite, em casa, corri para o quarto, para sentir na boca o gosto de ser amado: comi um pouquinho do panettone, sempre muito pouquinho e tanto mais demoradamente que os passos da Diane.
Beijos de uva passa cristalizada e taças pela madrugada...
(Gu)
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
terça-feira, 25 de novembro de 2008
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
madrinha
Acabou o livro, levantou-se, ainda lembrou-se de confirmar o nome da autora daquele romance tão perturbador: Ana Paula. Algo de místico rondava aquele nome. Ana Paula, repetiu como se confirmasse o nome da filha. Mas sem sobrenome carecia de identidade, não era um Joyce, ou um Goethe, tampouco um Shakespeare. Mas lembrou-se imediatamente de um outro nome. Homero. Onde tudo começa e pra onde tudo volta. Pareceu mesmo, aquela sua heroína, um pouco com Odisseu. Sua busca visava um outro lar, mas a mesma esposa. Talvez num mundo possível e tão verossímil quanto o de Odisseu.
Lembrou-se de ir a padaria comprar o pão para o café do dia que amanhecia. Saberia do gosto de mãe do macarrão de domingo. Nos elementos que se dispunham sobre os armários e móveis, alguns porta retratos, souvenires, e o que devia ser um artefato feminino sobrando ali por razão desconhecida, sonhavam uma áurea doce e de poderes desconhecidos até então. Tão poucas vezes soubera o valor desse amor de família que por vezes lhe pareceu um amor obrigado. E tanto quanto estas vezes teria lido livro tão perturbador como o de Ana Paula. (Abriu o portão) percebeu tal pensamento e esqueceu-se que havia esquecido o livro aberto. Mas fora proposital. Sentia conhecer aquele livro, sentia sonhá-lo, o sentia sonhar.
As pessoas logo começariam a chegar. Não sabia ao certo onde haviam ido. A casa foi tomada por ele por desculpa de uma noite, mas o tomou com sorriso que o recebeu. Dormira e agora buscava o pão para si próprio, mas sabia que iria encontrar companhia, talvez logo quando chegasse com o pão, que parecia uma tarefa fácil, mas lenta como a mãe que olha o filho dormir. Cada detalhe lhe lambia a retina, cada flor a se abrir nas árvores era ouvida. Se não fosse já um pouco tarde poderia dedicar-se mais a essa sensação de leveza de valsa cotidiana tão pouco vivida.
Passou sem dar ainda atenção ao cão que lhe lambia a mão livre da sacola. Preparou o café que não poderia deixar de ser doce. Comeu e esperou que chegassem. Chegaram. Olharam. Cozinharam. Conversaram. E era tudo tão bom. Tudo tão doce. Como era doce Penélope. Em cada olhar parecia caber um amor. Um amor só possível quando a mágoa toca o coração de cada um. Com alguma exceção na irmã mais nova e na afilhada. No beijo. Nas palavras enroladas da criança que aponta e que se sabe amada pra um sorriso de agradecer luzir o dia e arrebentar com um coraçãozinho já em fio.
Ela talvez não tivesse o direito de fazer assim. Mas ela fez e pronto. Ele agora espera sem saber se o fazia em vão. Mas por algum motivo, sem aquilo ele não teria isto. A criança ainda o olhava e tinha vergonha de falar francês. Mas a madrinha sempre pronta a ajudar aliviava a pressão e soltava uma gargalhada que assustava. Chegava mesmo a abalar a estrutura da casa, pensou ter ouvido, inclusive, uma rachadura fazendo-se na parede, como ouvira antes a flor, devido àquela gargalhada. E pensou: será que talvez não fora pelo olhar dessa gargalhada que as flores expunham-se pelas ruas? Ou antes teria sido apenas a inveja da mãe natureza que precisou criar sete maravilhas para descobrir que não superaria a criação do pai, pois a oitava saiu exatamente como a madrinha, que não era, mas tem todo o direito de ser, fada.
(biel)
Lembrou-se de ir a padaria comprar o pão para o café do dia que amanhecia. Saberia do gosto de mãe do macarrão de domingo. Nos elementos que se dispunham sobre os armários e móveis, alguns porta retratos, souvenires, e o que devia ser um artefato feminino sobrando ali por razão desconhecida, sonhavam uma áurea doce e de poderes desconhecidos até então. Tão poucas vezes soubera o valor desse amor de família que por vezes lhe pareceu um amor obrigado. E tanto quanto estas vezes teria lido livro tão perturbador como o de Ana Paula. (Abriu o portão) percebeu tal pensamento e esqueceu-se que havia esquecido o livro aberto. Mas fora proposital. Sentia conhecer aquele livro, sentia sonhá-lo, o sentia sonhar.
As pessoas logo começariam a chegar. Não sabia ao certo onde haviam ido. A casa foi tomada por ele por desculpa de uma noite, mas o tomou com sorriso que o recebeu. Dormira e agora buscava o pão para si próprio, mas sabia que iria encontrar companhia, talvez logo quando chegasse com o pão, que parecia uma tarefa fácil, mas lenta como a mãe que olha o filho dormir. Cada detalhe lhe lambia a retina, cada flor a se abrir nas árvores era ouvida. Se não fosse já um pouco tarde poderia dedicar-se mais a essa sensação de leveza de valsa cotidiana tão pouco vivida.
Passou sem dar ainda atenção ao cão que lhe lambia a mão livre da sacola. Preparou o café que não poderia deixar de ser doce. Comeu e esperou que chegassem. Chegaram. Olharam. Cozinharam. Conversaram. E era tudo tão bom. Tudo tão doce. Como era doce Penélope. Em cada olhar parecia caber um amor. Um amor só possível quando a mágoa toca o coração de cada um. Com alguma exceção na irmã mais nova e na afilhada. No beijo. Nas palavras enroladas da criança que aponta e que se sabe amada pra um sorriso de agradecer luzir o dia e arrebentar com um coraçãozinho já em fio.
Ela talvez não tivesse o direito de fazer assim. Mas ela fez e pronto. Ele agora espera sem saber se o fazia em vão. Mas por algum motivo, sem aquilo ele não teria isto. A criança ainda o olhava e tinha vergonha de falar francês. Mas a madrinha sempre pronta a ajudar aliviava a pressão e soltava uma gargalhada que assustava. Chegava mesmo a abalar a estrutura da casa, pensou ter ouvido, inclusive, uma rachadura fazendo-se na parede, como ouvira antes a flor, devido àquela gargalhada. E pensou: será que talvez não fora pelo olhar dessa gargalhada que as flores expunham-se pelas ruas? Ou antes teria sido apenas a inveja da mãe natureza que precisou criar sete maravilhas para descobrir que não superaria a criação do pai, pois a oitava saiu exatamente como a madrinha, que não era, mas tem todo o direito de ser, fada.
(biel)
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Excerto de relatório de estágio: Novembro
DA PROFESSORA:
Certa feita, fraquejei e tive de ser um ser humano por um dia. Vocês sabem a que conseqüências isso pode levar... O que vem de patadas, de coices, de garras, não se escreve. Eu sei que é piegas; sem meias palavras: pieguíssimo, escrever isso de não se poder ser humano. E, é claro, nem é verdade verdadeira, pois que as patadas, os coices e as garras também são dos humanos. Mas sei lá.
Bom, o que eu sei é que fraquejei, cheguei na escola, a professora perguntou como eu estava e eu respondi que “mal humorado”. Esse é o tipo de duas palavras que, com minha entonação, naquele momento, para aquela pessoa, chamaríamos grosseria. Eu tinha mil outras maneiras de dizer aquilo pra Diane, mais de acordo com o léxico que estabelecemos para com-versar, inclusive mais sinceras, mas disse do jeito que disse. E assim começou o desmoronamento.
As crianças gostaram. Estava tão feroz comigo e transferi tão bem minha fúria pra eles que todos ficaram quietinhos, como se não estivessem mais abandonados numa escola tão grande e tão fora de casa.
As crianças saíram, ficamos só eu e a Diane. Confessei que precisava de carinho. Aí desmontou o homem sempre em montaria e armadura, de cavalo e moinho de vento, de espada e escudo, arcaico, que defendia a Diane das injustiças da coordenadora e da diretora, que enfrentava com poeminhas circunstanciais, bielotruffas, chaveirinhos, perfumes, paciência, carinho e bom humor a falta de carro, de marido, de amor, de coragem, de força (sempre provisórias) da Diane. Ela não esperava. Respondeu em quatro tempos:
- pôs a mão na minha cabeça (gesto mais erótico dela, que teme os corpos como ninguém - a ponto de regular o rosto pro beijo de cumprimento).
- perguntou: “O que eu vou fazer de você, Gustavo? Jogar no lixo?”.
Vendo minha expressão de “Porra, você tá bem louca?”, ela tentou pela terceira vez:
- Vou jogar água em você!
Por fim, engatou sua última tentativa:
- Vou te por pra dormir.
Posso dizer que não esperava, dessa maneira, nenhuma dos momentos. Mas esta resposta encerra um carinho que não tinha conhecido antes. Desde o primeiro momento, tentando aproximar seu corpo (tão sabidamente desejado) do meu, passando pela rejeição absoluta, pela vontade de me acordar - literalmente - para a vida, até terminar no gesto materno de me pôr pra dormir, reconhecendo que a vida não tem muito jeito mesmo.
Tudo isso, de improviso, foi muito diferente das patadas, coices etc etc em estado puro a que estamos acostumados a receber depois de cometer a perigosíssima frase: “preciso de carinho”. Tudo isso me deu a alegria que todo homem pode querer, que é a de poder tirar a montaria. De noite.
(Gu)
Certa feita, fraquejei e tive de ser um ser humano por um dia. Vocês sabem a que conseqüências isso pode levar... O que vem de patadas, de coices, de garras, não se escreve. Eu sei que é piegas; sem meias palavras: pieguíssimo, escrever isso de não se poder ser humano. E, é claro, nem é verdade verdadeira, pois que as patadas, os coices e as garras também são dos humanos. Mas sei lá.
Bom, o que eu sei é que fraquejei, cheguei na escola, a professora perguntou como eu estava e eu respondi que “mal humorado”. Esse é o tipo de duas palavras que, com minha entonação, naquele momento, para aquela pessoa, chamaríamos grosseria. Eu tinha mil outras maneiras de dizer aquilo pra Diane, mais de acordo com o léxico que estabelecemos para com-versar, inclusive mais sinceras, mas disse do jeito que disse. E assim começou o desmoronamento.
As crianças gostaram. Estava tão feroz comigo e transferi tão bem minha fúria pra eles que todos ficaram quietinhos, como se não estivessem mais abandonados numa escola tão grande e tão fora de casa.
As crianças saíram, ficamos só eu e a Diane. Confessei que precisava de carinho. Aí desmontou o homem sempre em montaria e armadura, de cavalo e moinho de vento, de espada e escudo, arcaico, que defendia a Diane das injustiças da coordenadora e da diretora, que enfrentava com poeminhas circunstanciais, bielotruffas, chaveirinhos, perfumes, paciência, carinho e bom humor a falta de carro, de marido, de amor, de coragem, de força (sempre provisórias) da Diane. Ela não esperava. Respondeu em quatro tempos:
- pôs a mão na minha cabeça (gesto mais erótico dela, que teme os corpos como ninguém - a ponto de regular o rosto pro beijo de cumprimento).
- perguntou: “O que eu vou fazer de você, Gustavo? Jogar no lixo?”.
Vendo minha expressão de “Porra, você tá bem louca?”, ela tentou pela terceira vez:
- Vou jogar água em você!
Por fim, engatou sua última tentativa:
- Vou te por pra dormir.
Posso dizer que não esperava, dessa maneira, nenhuma dos momentos. Mas esta resposta encerra um carinho que não tinha conhecido antes. Desde o primeiro momento, tentando aproximar seu corpo (tão sabidamente desejado) do meu, passando pela rejeição absoluta, pela vontade de me acordar - literalmente - para a vida, até terminar no gesto materno de me pôr pra dormir, reconhecendo que a vida não tem muito jeito mesmo.
Tudo isso, de improviso, foi muito diferente das patadas, coices etc etc em estado puro a que estamos acostumados a receber depois de cometer a perigosíssima frase: “preciso de carinho”. Tudo isso me deu a alegria que todo homem pode querer, que é a de poder tirar a montaria. De noite.
(Gu)
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
uma gota a mais
Sei
Tão bem quanto você
Sem nem te querer
Que se explode de paixão.
Aquelas unhas
Negras ainda marcam minhas costas
Nuas sob o sol da tua lembrança
Sem nem te querer
E ela foi demais.
Num presente impossível
Sem nem te querer
Ela seria sempre demais.
Delícia, loucura e prazer
No meu mar
No meu mar AZUL
No meu altar
Na gênese do mal
O infinito impera
Mas o teu desenho
Teve de contornar
E ele te quis.
(biel)
Tão bem quanto você
Sem nem te querer
Que se explode de paixão.
Aquelas unhas
Negras ainda marcam minhas costas
Nuas sob o sol da tua lembrança
Sem nem te querer
E ela foi demais.
Num presente impossível
Sem nem te querer
Ela seria sempre demais.
Delícia, loucura e prazer
No meu mar
No meu mar AZUL
No meu altar
Na gênese do mal
O infinito impera
Mas o teu desenho
Teve de contornar
E ele te quis.
(biel)
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
poema em 2 min.
um poema hj nem é lido
tdo é reduzido
ñ há tempo pra poesia
qdo muito
pra t olhar
(biel)
tdo é reduzido
ñ há tempo pra poesia
qdo muito
pra t olhar
(biel)
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
da rua
Trabalhava. Não sabia mais da fome. Não tinha tempo de ir pra casa numa manhã, quanto mais de madrugada. Sabia a escuridão, mas não podia adormecer. Jamais. Da última vez levaram-me os pedaços de papelão. Se eu pego... Nascera ainda no caminho e só fora registrado com 76 anos. Ponto alto de sua vida. Mas na fronteira não é lugar bom de nascer. De morrer se vê que é fácil. Mas de viver é ainda muito mais difícil.
Caíra numa cidade estranha que não lhe via o rosto. Eram assim mesmo, cegos. Não cabiam em si e entupiam-se de coca-cola nos almoços de domingo. Uma vez achou dinheiro e resolveu vou ver o que tem de bom nesse troço preto. Tomara de um gole. Há uma semana sem comer e o dinheiro gasto em coca-cola. Colou-lhe o estômago às avessas, sentiu o ácido vibrar-lhe nas entranhas. Mas superou.
Sempre se superam as dores, os açoites dos guardas noturnos, os chutes dos playboys, uma queimadura que lhe corrompera a estética da perna que julgava bonita pra chutar uma bola, os olhares asquerosos das moças. Bom, esses doíam mais. Era vaidoso. Tinha um caco de espelho que não largava mesmo cortando-se com ele durante alguma madrugada mais fria ao encolher-se descuidado sob um banco de alguma praça com um guarda distraído. E com o auxilio do refletor de seus olhos ainda claros atrás da escuridão do encardido do rosto e do fedor de carniça que o habitava, sempre penteava o cabelo com um pente quase sem dentes.
Era esperto, não falava porque não tinha aprendido. Não sabia nem pedir socorro. Quando queimou-se fora levado ao hospital por bons samaritanos da manhã que o olharam e se eu o levo agora meu almoço será mais agradável, não pode dizer aos médicos nem a polícia que seus agressores estavam no mesmo corredor ao lado de uma empregada doméstica que apanhara muito pelo seu emprego, embora nada houvesse feito para pô-lo em perigo. Mas já enganara tantas vezes alguns exploradores noturnos. Uma vez, Ele tinha então 22 anos, um senhor se aproximara com um prato e oferecera-se para levá-lo pra sua casa e dar-lhe banho. Comeu tudo que tinha no marmitex e decidiu-se por acompanhar o sujeito. Talvez conseguisse mais comida. Adentrou aquela enorme casa e viu fotos do senhor com uma mulher, duas crianças apareciam numa foto e um bebê povoava as paredes. Ou eram dois? Não sei. São todos iguais. O senhor o conduzira ao banheiro tirou-lhe a roupa e o colocou dentro do box. Depois começou a despir-se também. Ao virar-se em direção ao senhor para tentar mostrar-lhe a sua fome que não fora satisfeita, deu com o senhor também faminto, sem roupa e erguido de uma forma que só adolescentes com prostitutas na primeira madrugada da vida. O senhor adentrou o box enquanto ele saiu pelo outro lado da porta que corria sobre trilhos instalados no chão. E ainda na saída, tivera tempo de pegar algumas roupas do cesto de roupas sujas e uma banana que recusara-se a comer num primeiro momento por lembrar-se do senhor e sua espada de cavaleiro noturno, mas mais que o nojo pode o jejum.
Envelhecera nas ruas e sem uma palavra. Com a dura cara de quem vem pra viver, mas nasce e vive na fronteira. Que é lugar de morrer.
(biel)
Caíra numa cidade estranha que não lhe via o rosto. Eram assim mesmo, cegos. Não cabiam em si e entupiam-se de coca-cola nos almoços de domingo. Uma vez achou dinheiro e resolveu vou ver o que tem de bom nesse troço preto. Tomara de um gole. Há uma semana sem comer e o dinheiro gasto em coca-cola. Colou-lhe o estômago às avessas, sentiu o ácido vibrar-lhe nas entranhas. Mas superou.
Sempre se superam as dores, os açoites dos guardas noturnos, os chutes dos playboys, uma queimadura que lhe corrompera a estética da perna que julgava bonita pra chutar uma bola, os olhares asquerosos das moças. Bom, esses doíam mais. Era vaidoso. Tinha um caco de espelho que não largava mesmo cortando-se com ele durante alguma madrugada mais fria ao encolher-se descuidado sob um banco de alguma praça com um guarda distraído. E com o auxilio do refletor de seus olhos ainda claros atrás da escuridão do encardido do rosto e do fedor de carniça que o habitava, sempre penteava o cabelo com um pente quase sem dentes.
Era esperto, não falava porque não tinha aprendido. Não sabia nem pedir socorro. Quando queimou-se fora levado ao hospital por bons samaritanos da manhã que o olharam e se eu o levo agora meu almoço será mais agradável, não pode dizer aos médicos nem a polícia que seus agressores estavam no mesmo corredor ao lado de uma empregada doméstica que apanhara muito pelo seu emprego, embora nada houvesse feito para pô-lo em perigo. Mas já enganara tantas vezes alguns exploradores noturnos. Uma vez, Ele tinha então 22 anos, um senhor se aproximara com um prato e oferecera-se para levá-lo pra sua casa e dar-lhe banho. Comeu tudo que tinha no marmitex e decidiu-se por acompanhar o sujeito. Talvez conseguisse mais comida. Adentrou aquela enorme casa e viu fotos do senhor com uma mulher, duas crianças apareciam numa foto e um bebê povoava as paredes. Ou eram dois? Não sei. São todos iguais. O senhor o conduzira ao banheiro tirou-lhe a roupa e o colocou dentro do box. Depois começou a despir-se também. Ao virar-se em direção ao senhor para tentar mostrar-lhe a sua fome que não fora satisfeita, deu com o senhor também faminto, sem roupa e erguido de uma forma que só adolescentes com prostitutas na primeira madrugada da vida. O senhor adentrou o box enquanto ele saiu pelo outro lado da porta que corria sobre trilhos instalados no chão. E ainda na saída, tivera tempo de pegar algumas roupas do cesto de roupas sujas e uma banana que recusara-se a comer num primeiro momento por lembrar-se do senhor e sua espada de cavaleiro noturno, mas mais que o nojo pode o jejum.
Envelhecera nas ruas e sem uma palavra. Com a dura cara de quem vem pra viver, mas nasce e vive na fronteira. Que é lugar de morrer.
(biel)
todo rio segue pro mar
Eu tenho que ir como quem parte um prato, mas não posso. Tenho que ir, mas não quero. O amor fica pra trás como ficam mais adiante as águas turvas do rio turbulento e esmorenado pelo barro deslizante desencarnado da pedra. Ainda me souberam umas despedidas, mas não a desejada.
E o rio me levou.
No desaguar do rio manso, mas persistente, suaram as lágrimas o sal do mar instável como meu rosto no espelho. Eu buscava amor e te encontrei sem saber que achara. Foi então passeando na lagoa que se liquefez um sorriso seu, em águas musgolentas refletoras de uma lua sem tamanho ou forma diante da chuva que caía num mendigo sob o céu descoberto.
Tudo ganhara nova significação. Eu e água. Eu e noiva. Uma pavão fêmea que buscava algo, mas que jamais poderia ter. Em mim não sobrava ave, nem no canto, nem no vôo. Mas como não poderia deixar de ser, houve verde e esperança.
No calar do dia, como claro que não podia deixar de ser ao som dos trovões e da chuva tonta que esbarrava para morrer na janela dos meus sonhos, foi que um segundo ou menos, ou quase isso, as cobras me teriam inveja diante do envolver-se em doce veneno que fora teu hálito penetrando minhas narinas e conjugando a respiração num algo que precipitadamente pensei antes fosse um beijo.
E fora ali, uma nuvem no céu escuro da noite refletindo a luz colorida de alguma boate, que, se perdi algo antes do meu nascimento e passei a vida toda procurando, eu achei. Depois do espanto dos seus olhos, o desvencilhar-se do meu corpo como um quase nojo se não fora antes mais que espanto, não sobrara muitas opções. As ruas estreitaram-se, as portas se fecharam, os barcos naufragaram, mas o meu rio não secou. Mergulhei como quem queria pedras nos bolsos, mas me desnudei antes.
Na noite virada o ano começa diferente. O ano não, mas um ciclo onde a estação já não é mais a dela. Onde os ventos já não são o halo que eu aspirava diante da hipótese da companhia. Aqui e agora não nasço. Também não posso (morrer ainda). Não enquanto ainda for viva essa espera. Eu: um pobre pato feio afogado na lagoa, aquela mesma da lua dos seus olhos a sorrir em plena chuva noturna. Num desespero derradeiro que se formou desde a minha partida precisa busco um retorno no resgate do apartado coração agora pertencente à selva dos dias sem fim de ilhas remotas cravadas em anormais arranha-céus onde não chove mais. E um dia ainda há de atravessar minha janela, aberta desta vez, um outro rouxinol a vir se perder entre meus espinhos.
(biel)
E o rio me levou.
No desaguar do rio manso, mas persistente, suaram as lágrimas o sal do mar instável como meu rosto no espelho. Eu buscava amor e te encontrei sem saber que achara. Foi então passeando na lagoa que se liquefez um sorriso seu, em águas musgolentas refletoras de uma lua sem tamanho ou forma diante da chuva que caía num mendigo sob o céu descoberto.
Tudo ganhara nova significação. Eu e água. Eu e noiva. Uma pavão fêmea que buscava algo, mas que jamais poderia ter. Em mim não sobrava ave, nem no canto, nem no vôo. Mas como não poderia deixar de ser, houve verde e esperança.
No calar do dia, como claro que não podia deixar de ser ao som dos trovões e da chuva tonta que esbarrava para morrer na janela dos meus sonhos, foi que um segundo ou menos, ou quase isso, as cobras me teriam inveja diante do envolver-se em doce veneno que fora teu hálito penetrando minhas narinas e conjugando a respiração num algo que precipitadamente pensei antes fosse um beijo.
E fora ali, uma nuvem no céu escuro da noite refletindo a luz colorida de alguma boate, que, se perdi algo antes do meu nascimento e passei a vida toda procurando, eu achei. Depois do espanto dos seus olhos, o desvencilhar-se do meu corpo como um quase nojo se não fora antes mais que espanto, não sobrara muitas opções. As ruas estreitaram-se, as portas se fecharam, os barcos naufragaram, mas o meu rio não secou. Mergulhei como quem queria pedras nos bolsos, mas me desnudei antes.
Na noite virada o ano começa diferente. O ano não, mas um ciclo onde a estação já não é mais a dela. Onde os ventos já não são o halo que eu aspirava diante da hipótese da companhia. Aqui e agora não nasço. Também não posso (morrer ainda). Não enquanto ainda for viva essa espera. Eu: um pobre pato feio afogado na lagoa, aquela mesma da lua dos seus olhos a sorrir em plena chuva noturna. Num desespero derradeiro que se formou desde a minha partida precisa busco um retorno no resgate do apartado coração agora pertencente à selva dos dias sem fim de ilhas remotas cravadas em anormais arranha-céus onde não chove mais. E um dia ainda há de atravessar minha janela, aberta desta vez, um outro rouxinol a vir se perder entre meus espinhos.
(biel)
da cor do dia
o negro falava grosso
resgava o ar da madrugada
a manhã dos pobres
um doce bom dia
pra quem trabalha pesado
os olhos ainda baixos
aparentava quarenta e cinco anos
já passava dos sessenta e seis
(biel)
resgava o ar da madrugada
a manhã dos pobres
um doce bom dia
pra quem trabalha pesado
os olhos ainda baixos
aparentava quarenta e cinco anos
já passava dos sessenta e seis
(biel)
da noite
é a noite,
quando tenho medo
de morrer.
mornas minhas presses
quase sem fé
buscam o céu.
os lábios tremem
sem saber
-carolina!
(biel)
quando tenho medo
de morrer.
mornas minhas presses
quase sem fé
buscam o céu.
os lábios tremem
sem saber
-carolina!
(biel)
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
perfeição
pés descalços
mãos também
vôo longe
pra ninguém
volto só
amo mais
toco o chão
olho atrás...
olhos doces
sem algum
sal do mar
seu redor
vai voltar
vai ser minha
amo-te
branquelinha
vou salvar
no cabelo
margarida
um sorriso
sem a rima
perfeicão
cai por terra
é maior
(biel)
mãos também
vôo longe
pra ninguém
volto só
amo mais
toco o chão
olho atrás...
olhos doces
sem algum
sal do mar
seu redor
vai voltar
vai ser minha
amo-te
branquelinha
vou salvar
no cabelo
margarida
um sorriso
sem a rima
perfeicão
cai por terra
é maior
(biel)
terça-feira, 21 de outubro de 2008
águas
escorre em trânsito no horizonte
a chuva
e deixa no ar a liquidez virgem do seu
sorriso
cada pé se sabe no passo.
na vidraça ainda, suicida,
a gota mais bela
passa despercebida.
ainda lambeu meu rosto em regresso
a lágrima
trespassada pelo sorriso azul do céu na terra
arco-íris.
(biel)
a chuva
e deixa no ar a liquidez virgem do seu
sorriso
cada pé se sabe no passo.
na vidraça ainda, suicida,
a gota mais bela
passa despercebida.
ainda lambeu meu rosto em regresso
a lágrima
trespassada pelo sorriso azul do céu na terra
arco-íris.
(biel)
ó, bem-amadinha,
eu pego o teu nome
denso como só o
que sedimentasse
ao longo de um ano
eu pego o teu nome
delicadamente
cheio do pavor
de rachá-lo ou mesmo
de até estilhaçá-lo
e corto, com ele,
minha face toda
componho desenhos
nervosos, rupestres
escorrendo informes
eu per-corro os riscos
e dos riscos correm
os rios escarlates
escaldantes
o tridente, as lavas.
(Gu)
eu pego o teu nome
denso como só o
que sedimentasse
ao longo de um ano
eu pego o teu nome
delicadamente
cheio do pavor
de rachá-lo ou mesmo
de até estilhaçá-lo
e corto, com ele,
minha face toda
componho desenhos
nervosos, rupestres
escorrendo informes
eu per-corro os riscos
e dos riscos correm
os rios escarlates
escaldantes
o tridente, as lavas.
(Gu)
sábado, 18 de outubro de 2008
Quadrinhas improvisadas
Se um dia eu soubesse,
dos seus olhos, a cor,
arco-íris virava
quintal do vovô
Se um dia eu soubesse,
dos seus olhos, a cor,
Cristinho descia
virava pintor
Se um dia eu soubesse,
dos seus olhos, a cor,
o mundo acabava
ou se virava em flor.
(Gu)
dos seus olhos, a cor,
arco-íris virava
quintal do vovô
Se um dia eu soubesse,
dos seus olhos, a cor,
Cristinho descia
virava pintor
Se um dia eu soubesse,
dos seus olhos, a cor,
o mundo acabava
ou se virava em flor.
(Gu)
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
inverno
sonhavamo-nos com doces remelas,
era doce o sal dos olhos,
eram incólumes os sonhos,
mas no horizonte a estrada
e a lágrima congelada.
não hei de amar uma pedra.
renegarei o gelo do meu olhar.
não sou o superman a voar,
mas sobre a escuridão
voa de leve (em breve) um avião.
(biel)
era doce o sal dos olhos,
eram incólumes os sonhos,
mas no horizonte a estrada
e a lágrima congelada.
não hei de amar uma pedra.
renegarei o gelo do meu olhar.
não sou o superman a voar,
mas sobre a escuridão
voa de leve (em breve) um avião.
(biel)
tercetos secretos II
não são os olhos
nem mesmo o rosto
talvez a barriguinha
ela nem é tanto assim
mas quando ela fala
o mundinho todo se cala
todo o mundinho do meu coração
se cala
todinho ela acalma
(biel)
nem mesmo o rosto
talvez a barriguinha
ela nem é tanto assim
mas quando ela fala
o mundinho todo se cala
todo o mundinho do meu coração
se cala
todinho ela acalma
(biel)
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
manhã
é
o amor coçando a barriga
de chinelo, na cozinha
e de saia escocesa
valsando com a borboleta
se esconde-esconde
no xampu de damasco,
mas meio volta
volta e meio no cacho
inda molhado, inda antes da chapinha,
inda antes do clarão do meio-dia
mais um olhar, mais um raio
mais uma cor, mais um quadro
mais um lar, mais um lábio
é
o amor crescendo,
na barriga,
chovendo na mercearia,
no apartamento, na gravura,
- nem adianta guarda-chuva
corre-corre
e o lencinho no chão?
corre-corre,
e pega-pega a minha mão!
três tigres tristes,
zigue zigue ziguezá,
corram pra casa
que a cuca vem pegar
mais uma flor, mais um parto
mais um par, mais um passo
mais uma dor, mais um maio
(Letra de música - Gu)
o amor coçando a barriga
de chinelo, na cozinha
e de saia escocesa
valsando com a borboleta
se esconde-esconde
no xampu de damasco,
mas meio volta
volta e meio no cacho
inda molhado, inda antes da chapinha,
inda antes do clarão do meio-dia
mais um olhar, mais um raio
mais uma cor, mais um quadro
mais um lar, mais um lábio
é
o amor crescendo,
na barriga,
chovendo na mercearia,
no apartamento, na gravura,
- nem adianta guarda-chuva
corre-corre
e o lencinho no chão?
corre-corre,
e pega-pega a minha mão!
três tigres tristes,
zigue zigue ziguezá,
corram pra casa
que a cuca vem pegar
mais uma flor, mais um parto
mais um par, mais um passo
mais uma dor, mais um maio
(Letra de música - Gu)
Excerto de relatório de estágio
DA PROFESSORA:
Não se saberá que descaminhos me trouxeram aqui, mas se alguém, aliás, souber, pode me contar, em sendo da vontade, um dia, mas pra quê tantos seios?
Ela parece minha esposa. E tem muitos anos já, de vida; o que faz parecer também que eu sou casado de longa data. E eu olho ela ardendo, como se fosse e sendo virgem. Parecemos pais, durante 5 horas diárias, de muitas crianças.
Ela é tão linda mãe... Rigidamente linda, carrancudamente linda, severamente linda, amorosamente linda. Tem solução pra tudo, ela! E não é, assim, que ela fique pensando pensando e ache uma solução: mal o problema quis acenar existência, de longe, e ela já resolveu.
Podia bem ser minha mãe também.
Ela traz marcas, na barriga, nítidas de que já foi mãe. Duas vezes. Tamanhamente sensuais os sinais de gravidez. Eu é que não queria uma mulher que não fosse mãe! Aquela chapação de barriga: eca! Tô é fora! Às vezes, dá pra ver um pouquinho da barriga.
Isso tudo porque vocês não viram as mãos dela! Era, um dia, ela passando cola nos cartazes com as mãos nuas. Aí foi que a mão dela ficou linda no seu esplendor. O branco da cola no branco das unhas sem esmalte no moreno da pele. Eu queria mais que ela me pegasse aquela hora e que a cola grudasse mais pra sempre.
Mas pra quê tantos seios?
Gosto quando ela escreve na lousa. Ela anda rebolando rebolando rebolando... Mesmo se caminha pra dar bronca.
Quando ela aparece, todo mundo fica em silêncio. E querendo ouvir e aprender. Ela é tão mas tão mãe, e tão linda mãe, que, na minha ausência, ela vira pai também. E eu até tô aprendo a ser pai, crê? Aprendendo, a duríssimas penas, a deixar de apenas amar, apenas sorrir, apenas chorar, apenas ser amigo, aprendendo a ser pai.
Ela fala o tempo inteirinho, mas não consigo ouvir metade do que ela diz. É porque ela diz muito mais fazendo que falando. Fazendo. Aí eu ouço. Com toda a atenção. Ouço ela se cansando e superando o cansaço, ouço ela rindo, ouço ela fazendo o que ninguém mais faz. Nem ouve? Nem houve?
Quando ela cruza os braços, sobram sobre os braços os tantos seios de quem já amamentou, enquanto a barriga de quem já engravidou por 18 meses sobra sob os braços. Eu queria morder ela todinha. Devorar ela. Até não sobrar sombra. Fazer ninho pra ela na minha cama.
Queria cozinhar pra ela, lavar sua calcinha e seu sutiã. Ser a esposa dela. Queria fazer blusa de lã, pra esquentar ela naquela sala fria. Bordar seu sutiã. Medir o tamanho do sutiã. Calcular o tamanho. Espremer tudo aquilo numa fórmula.
(Gu)
Não se saberá que descaminhos me trouxeram aqui, mas se alguém, aliás, souber, pode me contar, em sendo da vontade, um dia, mas pra quê tantos seios?
Ela parece minha esposa. E tem muitos anos já, de vida; o que faz parecer também que eu sou casado de longa data. E eu olho ela ardendo, como se fosse e sendo virgem. Parecemos pais, durante 5 horas diárias, de muitas crianças.
Ela é tão linda mãe... Rigidamente linda, carrancudamente linda, severamente linda, amorosamente linda. Tem solução pra tudo, ela! E não é, assim, que ela fique pensando pensando e ache uma solução: mal o problema quis acenar existência, de longe, e ela já resolveu.
Podia bem ser minha mãe também.
Ela traz marcas, na barriga, nítidas de que já foi mãe. Duas vezes. Tamanhamente sensuais os sinais de gravidez. Eu é que não queria uma mulher que não fosse mãe! Aquela chapação de barriga: eca! Tô é fora! Às vezes, dá pra ver um pouquinho da barriga.
Isso tudo porque vocês não viram as mãos dela! Era, um dia, ela passando cola nos cartazes com as mãos nuas. Aí foi que a mão dela ficou linda no seu esplendor. O branco da cola no branco das unhas sem esmalte no moreno da pele. Eu queria mais que ela me pegasse aquela hora e que a cola grudasse mais pra sempre.
Mas pra quê tantos seios?
Gosto quando ela escreve na lousa. Ela anda rebolando rebolando rebolando... Mesmo se caminha pra dar bronca.
Quando ela aparece, todo mundo fica em silêncio. E querendo ouvir e aprender. Ela é tão mas tão mãe, e tão linda mãe, que, na minha ausência, ela vira pai também. E eu até tô aprendo a ser pai, crê? Aprendendo, a duríssimas penas, a deixar de apenas amar, apenas sorrir, apenas chorar, apenas ser amigo, aprendendo a ser pai.
Ela fala o tempo inteirinho, mas não consigo ouvir metade do que ela diz. É porque ela diz muito mais fazendo que falando. Fazendo. Aí eu ouço. Com toda a atenção. Ouço ela se cansando e superando o cansaço, ouço ela rindo, ouço ela fazendo o que ninguém mais faz. Nem ouve? Nem houve?
Quando ela cruza os braços, sobram sobre os braços os tantos seios de quem já amamentou, enquanto a barriga de quem já engravidou por 18 meses sobra sob os braços. Eu queria morder ela todinha. Devorar ela. Até não sobrar sombra. Fazer ninho pra ela na minha cama.
Queria cozinhar pra ela, lavar sua calcinha e seu sutiã. Ser a esposa dela. Queria fazer blusa de lã, pra esquentar ela naquela sala fria. Bordar seu sutiã. Medir o tamanho do sutiã. Calcular o tamanho. Espremer tudo aquilo numa fórmula.
(Gu)
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Spleen
Sabe o que era bão?
Saber avoar...
Sair desse chão
Subir vagarinho
Pois não de avião
Mas com os passarinho
Ou com um balão
Chegar no seu ninho
Todo bonitão.
E se não tem alma:
Ir pro seu caixão,
calar a matraca,
comer seu coração,
soterrar na vala
tal vida de não!
(Gu)
Saber avoar...
Sair desse chão
Subir vagarinho
Pois não de avião
Mas com os passarinho
Ou com um balão
Chegar no seu ninho
Todo bonitão.
E se não tem alma:
Ir pro seu caixão,
calar a matraca,
comer seu coração,
soterrar na vala
tal vida de não!
(Gu)
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
deus atrás de esposa
deus é um rato na casa do demônio.
roe pelas pontas,
caga por onde passa
quase nunca se vê
mas se sabe estar lá.
deus é um rato na casa do demônio.
incomoda à noite
quando faz barulho
roendo o alicerce
trabalhando a demolição.
deus é um rato na casa do demônio.
servindo limonada
cobiçando o seu quejinho
caçado a vassouradas
solto no escuro.
deus é um rato na casa do demônio.
um diabinho passivo
que torce e se retorce
para que, antes da demolição,
não deixem veneno no queijo.
(biel)
roe pelas pontas,
caga por onde passa
quase nunca se vê
mas se sabe estar lá.
deus é um rato na casa do demônio.
incomoda à noite
quando faz barulho
roendo o alicerce
trabalhando a demolição.
deus é um rato na casa do demônio.
servindo limonada
cobiçando o seu quejinho
caçado a vassouradas
solto no escuro.
deus é um rato na casa do demônio.
um diabinho passivo
que torce e se retorce
para que, antes da demolição,
não deixem veneno no queijo.
(biel)
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
graves e agudos
houve um som
o natural
e ele era um gemido
houve um som
o primeiro
e ele era um gemido
houve um som
o bíblico
e ele era um gemido
houve um som
o mudo
e ele era um gemido
houve um som
o romper a manhã
e ele era um suspiro
(biel)
o natural
e ele era um gemido
houve um som
o primeiro
e ele era um gemido
houve um som
o bíblico
e ele era um gemido
houve um som
o mudo
e ele era um gemido
houve um som
o romper a manhã
e ele era um suspiro
(biel)
segunda-feira, 21 de julho de 2008
calendário
ouço vozes
mantêm-me na linha.
vêm de longe.
só
um
eco
para inflar meu ego.
no centro
só há
só
mas na volta
na curva
no giro do mundo
ergue-se um novo sol
pra mais um dia de sal
e uma doce noite.
(biel)
mantêm-me na linha.
vêm de longe.
só
um
eco
para inflar meu ego.
no centro
só há
só
mas na volta
na curva
no giro do mundo
ergue-se um novo sol
pra mais um dia de sal
e uma doce noite.
(biel)
quinta-feira, 17 de julho de 2008
um encontro
sobe pútrida a nuvem...
seus membros expelem vermes em doce deslizar
e é nesse lugar
que me afogo
só aí encontro mais dois
síntese escancarada e sublimada de mim
suaves palavras e agudos sons
e versos
só aí revela-se algo sobrenatural
três bobões num afogamento suicida de espantar jesus
e de salvar as donzelas.
(biel)
seus membros expelem vermes em doce deslizar
e é nesse lugar
que me afogo
só aí encontro mais dois
síntese escancarada e sublimada de mim
suaves palavras e agudos sons
e versos
só aí revela-se algo sobrenatural
três bobões num afogamento suicida de espantar jesus
e de salvar as donzelas.
(biel)
quarta-feira, 16 de julho de 2008
do escuro
no fundo do canto do quarto
a barreira do corpo inverte o parto
some no escuro a voz
e a lágrima no riso desfaz
a noite invade serena e constante
penetra o dia de sol sufocante
no canto quarto alguém se debate
na ânsia de ti ser a parte
o grito cindido do corpo
um espasmo contorse, à dor se consente.
no dia seguinte (amanhã cinza)
sobram espaços mas flores e cores nas tintas
despenca a noite os olhos desviam
indagam o beijo com a carne gelada
no instante antes da noite estrelada
-olha lá...
-tanta estrela... olha lá
-tanta estrela..
-só sobrou..
-..o céu
o amor nasceu...
(biel)
a barreira do corpo inverte o parto
some no escuro a voz
e a lágrima no riso desfaz
a noite invade serena e constante
penetra o dia de sol sufocante
no canto quarto alguém se debate
na ânsia de ti ser a parte
o grito cindido do corpo
um espasmo contorse, à dor se consente.
no dia seguinte (amanhã cinza)
sobram espaços mas flores e cores nas tintas
despenca a noite os olhos desviam
indagam o beijo com a carne gelada
no instante antes da noite estrelada
-olha lá...
-tanta estrela... olha lá
-tanta estrela..
-só sobrou..
-..o céu
o amor nasceu...
(biel)
quarta-feira, 2 de julho de 2008
pequeno intervalo do tempo
há que se ter períodos onde nada é documentado!
são exatamente esses os momentos de maior criatividade e inspiração onde a poesia atinge o nível do indizível. Um desmaio bêbado de poesia onde só veremos então um clarão feliz, bobamente feliz de ter experimentado algo desse nível, mesmo quando esse indizível beira a morta dessa mesma felicidade. mas no final, o que sobra são estórias pra contar...
Divirta-se, mas não muito
Biel
são exatamente esses os momentos de maior criatividade e inspiração onde a poesia atinge o nível do indizível. Um desmaio bêbado de poesia onde só veremos então um clarão feliz, bobamente feliz de ter experimentado algo desse nível, mesmo quando esse indizível beira a morta dessa mesma felicidade. mas no final, o que sobra são estórias pra contar...
Divirta-se, mas não muito
Biel
sábado, 12 de abril de 2008
A Fábula Paciente
Era uma vez uma princesa que amou até seu coração se tornar o maior de todos. Com ele, a princesa venceu dragões e toda a sorte de criaturas nefastas. Até venceu a si mesma. Não tinha nascido pura, mas depurou-se. Subiu aos céus, no bojo do seu coração, e trocou seu quinhão de enxofre pelo azul celeste. Como amava muito um homem, entregou tudo, sem receios. O homem, evidentemente, levou tudo consigo, muito satisfeito. A princesa decidiu que jamais cortaria seus cabelos até que seu venturoso bem-amado voltasse. Os seus serenos cabelos vagarosamente cresceram, qual o coração. E desceram aos pés. Desceram ao chão. Desceram até o inferno.
O Diabo subiu pelas tranças e desposou a princesa.
(Gu)
O Diabo subiu pelas tranças e desposou a princesa.
(Gu)
quinta-feira, 6 de março de 2008
pra onde?
sumido foi.
talvez tivesse sido eu que não fosse
mas se era e não foi ´
não era pra ser.
então sumiu
ou será que se perdeu em mim?
(biel)
talvez tivesse sido eu que não fosse
mas se era e não foi ´
não era pra ser.
então sumiu
ou será que se perdeu em mim?
(biel)
brisa da manhã
num sonho desses de garoto de rua
num começo de manhã
na noite mal dormida
no sol que penetrava como lança
no estômago do inimigo
numa saudade que não tinha do que ser
de um tempo feliz que nascia naquela inspiração
inspirei...
no lança-perfume,
minha cola,
seu pescoço.
(Biel)
num começo de manhã
na noite mal dormida
no sol que penetrava como lança
no estômago do inimigo
numa saudade que não tinha do que ser
de um tempo feliz que nascia naquela inspiração
inspirei...
no lança-perfume,
minha cola,
seu pescoço.
(Biel)
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
num piscar de olhos
houve antes algum amor
mas depois...
não há sequer depois de você.
a lua nunca iluminou as noites
só veio se embebedar
na noite que transborda dos seus olhos.
o teu cheiro de anjo
é pecaminoso
toda vez que eu fecho meus olhos.
fechar os olhos é um mergulho nos teus olhos
e no cheiro do teu cheiro
que atravessa minha madrugada.
(biel)
mas depois...
não há sequer depois de você.
a lua nunca iluminou as noites
só veio se embebedar
na noite que transborda dos seus olhos.
o teu cheiro de anjo
é pecaminoso
toda vez que eu fecho meus olhos.
fechar os olhos é um mergulho nos teus olhos
e no cheiro do teu cheiro
que atravessa minha madrugada.
(biel)
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
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