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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Coreographia IV

Os bailarinos movem-se no palco...
E, presa, a professora engarrafada.

Os bailarinos movem-se no palco...
E, presos, carros no estacionamento.

Os bailarinos movem-se no palco...
E, presos, funcionários bilheteiros.

Os bailarinos movem-se no palco...
E, preso, o público em seus brandos bancos.

Os bailarinos movem-se no palco...
E, presas, as palavras no libreto.

Entra no palco a bailarina! a Paula...
E! preso! meu coraçãozinho pára

(Gustavo de Paula)

Repetitéur I

Mahmud Sobh diz do
poeta
da literatura árabe no califado omíada:

Vive um amor
exclusivo.
Ou seja, não sente amor mais que por
uma
única
amada.

Não pode apaixonar-se por nenhuma outra. Não há mulher que a iguale nem que possa substituí-la. Daí que alguns poetas sejam conhecidos por seus nomes junto aos de suas respectivas amadas: Qays-Laylà, Qays-Lubnà, Ŷamīl Buţayna, Kuţayyir-‘Azza etc.

(Gustavo de Paula)

Deboulés I

A quinta. A quinta da direita para a esquerda (não, a mão que escreve). Essa do centro. Isso. Era a sua vó, na sua idade. Ah, sim, demais! Não conta pra ninguém, mas eu fiz uma promessa pra Nossa Senhora do Sapinhos Escritores pra você, a sua mãe e seus tios se parecerem muito mais com ela do que comigo. Verdade. Comigo, só na coragem e na constança. E eu paguei a promessa sabe como? Dando 7 voltas de pulinhos no Lago Titicaca (não é fedido, não, sua bobona!...), que é um lago bem enorme (deixa comigo, te levo lá). Adivinha só qual personagem que a sua vó dançou, neste dia... Não. Errado. Não... Aquela história que vovô contou nas férias de janeiro, se lembra? Sim. A bela... É claro: adormecida. Acertou, sua sapeca! Você quer saber hoje? Qual personagem que ela é? Ah, acho que... Calma, o bolo não vai fugir da mesa!

(Gustavo de Paula)

domingo, 27 de novembro de 2011

Sissone en avant I

Porque eu preciso da vida para morrer de amor.

(Gustavo de Paula)

domingo, 20 de novembro de 2011

Plié I

E não me tire esse copo aqui da mesa! Desta dor, quero até o último gole, quero o copo inteiro, quero estilhaçar o copo nos dentes na língua no céu da boca na amígdala no pomo de adão, quero-a caco a caco em sorvos lentos, sedentos, avarentos.

(Gustavo de Paula)

Coco I

Pois a maçã preguntô
P’ras uvinha lá do cacho:
Qual o exílio da beleza?
Respondero: A Paula, eu acho.

- Mas, sô, não era o Curíntia?
Nem um milagre absurdo?
Nem chuva de margarida?
Nem o céu de Cordisburgo?

- Será que nem cachoêra?
Nem barquim de jornar?
Será que sua beleza
É maior que um enxovar?

- Maior que o mar e que o céu?
E o que o tempo na prisão?
Que meus anos sem te ver?
E que a imaginação?

- Mas será assim mesmo
Tão maior sua beleza
Que o coco do coqueiro?
E que o bão da sobremesa?

- Mais maior que a internet?
E que a barba do Mamede?
E que aquele dicionário
Sem fim do Caldas Aulete?

- E mais ainda que a Bíblia?
Que a coragem do Biér?
Que o coração do Lelê?
Que o giro num carrussér?

- Que a população da China?
Que o gado do boiadêro?
Que a peleja dum cristão?
Que a tristeza dum vaquêro?

- Mas será assim mesmo
Tão maior sua beleza
Que o coco do do Pandêro?
E que toda a natureza?

Pois as uva confirmaro,
E a maçã desconfiô.
Mas quando te vis-viu...
Virou em maçã-do-amor!

(Gustavo de Paula)

sábado, 12 de novembro de 2011

Coreographia II

A José Silvério

I

Pai do Gol, esposo da Bola,
Coreographo na vitrola,

Asceta do verbo e do rádio,
Aedo das liças no estádio,

Irradiador ou irradiante?
Ou radioativo reboante?

Raio: a luz que emana de um foco
E se alastra em nós em voz e fogo.

II

Se a bola rola, vibra o canto;
Gládio em campo, voz de comando.

Se de trivela, arqueia o entoo;
E se chapela, alça-o em voo.

Bicicleta, manobra-a em dós;
Defende a meta, fecha a voz.

Cobra o pênalti, tom suspeito...
Se estufa a rede, estufa o peito!


III

E que golaço! E que golaço!
De cabeça, voleio ou braço.

Com artilheiros, tanto gol,
Mas foi você quem os marcou.

Em uma só voz, nossa vista
Mais corada, e atenta, e imprevista.

Em uma só voz, nosso grito
Intensificado: negrito.

IV

Pra cantar, mister é escoltar
Rodopios e curvas no ar.

– E quem me ensinou foi você,
Ainda antes de Mallarmé,

E de Orides, e de Foucault,
Eu menino, em colo do Vô –

Pra cantar: sílabas na cola
Da dança insurgente da Bola.

(Gustavo de Paula)

domingo, 6 de novembro de 2011

Pas marché I

Assombrado, General Flores descobriu que, dali em diante, seus passos pelas ruas jamais poderiam ser os mesmos de tantos anos e de tanto uso. Notou que, se tropeçasse, faria tremer as raízes centenárias das árvores do bairro, os tanques de guerra da cidade, os tratados comercias do país.

As donzelas, enfeitiçadas, sentiam o movimento brusco das coxas monumentais, transtornando a direção dos ventos, erguer cada prega de suas saias, desde a cauda, cada sobretúnica, cada corpete.

Os senhores de tatuagens e barbas ruivas, muito viris e honrados, sim senhor, fugaz não se acomodavam a seus apetites.

Aos anciãos, causava repúdio a vitalidade daqueles passos. Aos miúdos, temor. Não dormiriam aquela noite: alguns, apavorados com a possiblidade dos passos alcançarem seus quartos; outros, receosos de que não deparassem outra vez, em vida, com passos tais que pudessem seguir até onde fossem.

O estouro da manada refrearia sua explosão alucinada, caso se pusesse em seu caminho, naquele dia.

Nuvens teriam anegralhado o céu para a tempestade, caso se atrevessem a permanecer sobre a certeza intolerável daqueles passos.

As folhas pesadas do outono se precipitavam desejando mais que tudo serem trituradas por aqueles pés indiferentes.

Passos sem pressa nem preguiça:
Nem em falso nem passo a passo.
Nem passo o ponto nem ao passo que.
Nem básico nem avançado.
Nem paço nem compasso.
Nem Passo Fundo nem de rosca.
Nem escoteiro nem escuro.
Nem andante nem allegro.
Nem ida à labuta nem volta ao lar.
Nem marcha nem ballet.

Passos, sim, de quem fez, do mundo, o próprio quarto.
Porque fizera, de alguns dois olhos castanhos bem escuros, o abajur.

(Gustavo de Paula)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Dança contemporânea III

Krente_na_cam mamou no silicone
Uns 500 ml de borracha
E nem era daquelas de apagar.

Em seu novo serviço, toda vez
Que o chefe sai, faz sexo virtual.
Qualquer coisa, é só fechar a janela.

(Gustavo de Paula)

domingo, 28 de agosto de 2011

Pas de deux (ou do casamento) I

(por supuesto, à Bailarina)


Pois que não se pode,
Em areias movediças,
Nem dançar pagode.

(Gustavo de Paula)