domingo, 11 de dezembro de 2011

Soneto da avaliação V

São muitos, hoje, os fabulosos métodos
Já disponíveis no mercado para
Avaliar cientificamente até todos
Filhos desta nação ubirajara!

Avaliação especial aos réprobos
Das redes públicas, exata e clara,
para livrar de vez também os netos dos
contemporâneos da agrura da vara.

Entre eles, destacamos p'ra vocês:
Testes de inteligência, TOP 10,
Fuvest, IBOPE, sondagens, concur-

sos, distratores e no-milho-ajoelha.
Se calcinha vermelha, nota azul.
Mas se calcinha azul... nota vermelha!

(Pau no Gu)

Soneto da avaliação IV

“Numa terra de morenos”, Clarice
soprava que “ser ruivo era revolta”,
“revolta involuntária”, mas sem volta –
Só clandestinidade, ciganice –.

Uma vida sem tribo, pois, que abrisse
Trincos, janelas: riscos sem escolta –
Nem mesmo a de uma “tribo ruiva” –. À solta,
Aos relinchos, à pirlimpsiquice.

Os morenos, porém, que nem são pretos
nem brancos, sentem ódio desses ruivos
E inventaram, para enfim lhes dar tetos,

notas baixas, vermelhas, humilhantes.
Os revoltosos persistem aos uivos.
E os ares ficam mais rubros que dantes.

(Pau no Gu)

Soneto da avaliação III

Caros senhores professores, nada
de atribuir a nota mais vermelha
com punhados de terra roxa em ovelha.
E muito menos com a tal pincelada

na barba de Van Gogh! Não, não. Cada
nota será a que lhe der na telha,
mas siga atento o que o MEC aconselha:
Só vermelhar se for com mãos de fada:

Primeiro, o detergente de maçã;
Depois tempere com muito urucum,
p’ra fazer, dos moídos, no The Wall,

molho pardo. Depois usamos um
dos marcadores de gado, sob o sol
a pino, em fogo, em brasa, in memorian.

(Pau no Gu)

Soneto da avaliação II

Contem-me, coordenadoras, colegas,
será esfregando rosas desgrenhadas?
Ou com o batom dos beijos e dos pegas
no homem da vida, morto já, a facadas?

Ou com a menstruação daquelas negas
dele, nas traições, nas canalhadas?
Ou com choro de vela de Las Vegas?
Gotas de sangue aidético doadas?

Atribuímos as notas vermelhas
com o quê mesmo? Será nas sobrancelhas
e bochechas lanhadas de borrão

de rímel escorrido pelas lágrimas?
Ou em ventres, com haraquiri, a sabre?
Mas... é que eu sou nova na profissão...

(Pau no Gu)

Soneto da avaliação I

Atribuir as notas bem vermelhas
para aqueles punhetas do caralho
com esmalte das putas desse atalho?
Com pentelho de conas ruivas, velhas?

Com cacos dos rubis de brinco, a talho
desfeitos pela Dama das Camélias
do bordel? Com tintura no grisalho
dos cabelos? Com vinhos? Com centelhas

de lava de vulcão? Ou com o tridente
do Capeta sedento de buceta?
Com a mão inflamada de punheta?

Ou com cuspe de tísico? Contente
e hemorrágico? Ou então com gorjeta
em púbis gonorreico na sarjeta?

(Pau no Gu)

Soneto humanizador I

Bafejava palavras, o docente,
E seu bafo impregnava, forte e quente,
A sala d’aula inteira: das carteiras
Aos uniformes, por todas fileiras,

E logo o pátio, enfim o continente.
Trucidava, ele, as escovas de dente,
Cultivava piorreias e boqueiras,
Cáries e todo o ódio às enfermeiras.

Era, o bodum, de tal modo bestial
Que qualquer um passava muito mal,
Abandonado à própria selva esconsa.

Suas palavras fediam carniça,
Não cheiravam a certeza castiça.
Dizem que bafejava em língua de onça.

(Pau no Gu)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Coreographia IV

Os bailarinos movem-se no palco...
E, presa, a professora engarrafada.

Os bailarinos movem-se no palco...
E, presos, carros no estacionamento.

Os bailarinos movem-se no palco...
E, presos, funcionários bilheteiros.

Os bailarinos movem-se no palco...
E, preso, o público em seus brandos bancos.

Os bailarinos movem-se no palco...
E, presas, as palavras no libreto.

Entra no palco a bailarina! a Paula...
E! preso! meu coraçãozinho pára

(Gustavo de Paula)

Repetitéur I

Mahmud Sobh diz do
poeta
da literatura árabe no califado omíada:

Vive um amor
exclusivo.
Ou seja, não sente amor mais que por
uma
única
amada.

Não pode apaixonar-se por nenhuma outra. Não há mulher que a iguale nem que possa substituí-la. Daí que alguns poetas sejam conhecidos por seus nomes junto aos de suas respectivas amadas: Qays-Laylà, Qays-Lubnà, Ŷamīl Buţayna, Kuţayyir-‘Azza etc.

(Gustavo de Paula)

Deboulés I

A quinta. A quinta da direita para a esquerda (não, a mão que escreve). Essa do centro. Isso. Era a sua vó, na sua idade. Ah, sim, demais! Não conta pra ninguém, mas eu fiz uma promessa pra Nossa Senhora do Sapinhos Escritores pra você, a sua mãe e seus tios se parecerem muito mais com ela do que comigo. Verdade. Comigo, só na coragem e na constança. E eu paguei a promessa sabe como? Dando 7 voltas de pulinhos no Lago Titicaca (não é fedido, não, sua bobona!...), que é um lago bem enorme (deixa comigo, te levo lá). Adivinha só qual personagem que a sua vó dançou, neste dia... Não. Errado. Não... Aquela história que vovô contou nas férias de janeiro, se lembra? Sim. A bela... É claro: adormecida. Acertou, sua sapeca! Você quer saber hoje? Qual personagem que ela é? Ah, acho que... Calma, o bolo não vai fugir da mesa!

(Gustavo de Paula)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Soneto da educação para a igualdade de gêneros II

A fila das meninas, à direita.
A fila dos meninos, à esquerda.
A fila das meninas já se enfeita.
A fila dos meninos, a mais lerda.

A fila das meninas, sob suspeita.
A fila dos meninos, nada esperta...
A fila das meninas quer colheita.
A fila dos meninos só faz merda.

A fila das meninas vê desfeita.
A fila dos meninos nota a perda.
A fila das meninas: não mais... eita!

A fila dos meninos desconcerta.
A fila das meninas rola e deita.
A fila dos meninos, bom... deserda.

(Pau no Gu)

Soneto da educação para a igualdade de gêneros I

A fila dos meninos, à direita.
A fila das meninas, à esquerda.
A fila dos meninos, mais estreita.
A fila das meninas, a mais lerda.

A fila dos meninos, sem tolheita.
A fila das meninas toda incerta.
A fila dos meninos, vai e peita!
A fila das meninas, fica alerta.

A fila dos meninos, certa feita...
A fila das meninas: não aperta.
A fila dos meninos, viva a seita!

A fila das meninas mais não quer, tá?!
A fila dos meninos já se deita.
- A fila das meninas, vá p’ra merda!

(Pau no Gu)

Soneto da escrita escolar II

Foi inventado pelo chimpanzé.
Mas é usado apenas por serpente.
Do Boletim de Ocorrência, é parente.
E também amiguinho do IBGE.

Livro de cabeceira, é até
Do ministro e da atual presidente.
Registra, pune, soma os delinquentes.
Pois, minha gente, o que é? o que é?

Não vale conferir em seus cadernos.
Nem mesmo verificar a apostila.
Nem soprar para os colegas hibernos.

Muito menos pros da última fila!
E sem bisbilhotar os seus infernos.
É o diário de classe, sim, Dona Dalila.

(Pau no Gu)

domingo, 27 de novembro de 2011

Soneto da escrita escolar I

Chamem policiais, empreendedores,
Pastores, cientistas, Barrabás,
Chacais, leões-de-chácara, umas flores,
E os administradores, aguarrás,

E mais: os filisteus, governadores,
Senhores, guardas, médicos legais,
Geisel, juízes, bispos, revisores,
Autores, diretores, tanto faz!

Só não permitam, oh! só não permitam
Que a pena do poeta lambuzasse
Sua cruenta e diabólica tinta

Sem que fosse em mandinga, asilo, passe
De mágica, ou sarjeta, ou vaso, ou finta.
Aos outros, deixem o diário de classe!

(Pau no Gu)

Soneto da escrita escolar III

(Ao gosto de Glauco Mattoso)

Anos, passou a fio, a ler os textos
De seus alunos embusteiros gados.
A cada vírgula, esperava gestos
De fúria e sangue, verbos desbocados.

Que nada! Lero-lero em manifestos,
Missas, lances de dados viciados:
Despoluir... descorromper... protestos
Tão soníferos quanto calculados.

Mas, por vencido, não se deu. Hahá.
- Cansei de bosta no papel. De cócoras!
No chão, caguemos. Um, dois, três e já!

Caprichai, que impiedoso o tempo cobra.
Sem mais tardar, o sinal soará.
A gente vai, e fica só a obra.

(Pau no Gu)

Soneto do absenteísmo I

Tudo que querem é fugir da escola –
Não esperam por édens, utopias –
Basta-lhes divisar um tatu-bola,
Ou mesmo louças sujas pelas pias,

Despertar meio-dia sobre a xola
Da esposa – se recusam putarias –
Ou assistir à novela mais tola –
Não sonham Kurosawas pra tais dias –

Nem retorno ao vestiba nem partida
P’ra aposentadoria lá em Bagdá
Nem mesmo férias na Ilha Perdida.

Querem vazar. Ofurô. Saravá.
Mas a escola em seus corpos encardida...
A escola, neles, nunca faltará.

(Pau no Gu)

Sissone en avant I

Porque eu preciso da vida para morrer de amor.

(Gustavo de Paula)

domingo, 20 de novembro de 2011

Plié I

E não me tire esse copo aqui da mesa! Desta dor, quero até o último gole, quero o copo inteiro, quero estilhaçar o copo nos dentes na língua no céu da boca na amígdala no pomo de adão, quero-a caco a caco em sorvos lentos, sedentos, avarentos.

(Gustavo de Paula)

Coco I

Pois a maçã preguntô
P’ras uvinha lá do cacho:
Qual o exílio da beleza?
Respondero: A Paula, eu acho.

- Mas, sô, não era o Curíntia?
Nem um milagre absurdo?
Nem chuva de margarida?
Nem o céu de Cordisburgo?

- Será que nem cachoêra?
Nem barquim de jornar?
Será que sua beleza
É maior que um enxovar?

- Maior que o mar e que o céu?
E o que o tempo na prisão?
Que meus anos sem te ver?
E que a imaginação?

- Mas será assim mesmo
Tão maior sua beleza
Que o coco do coqueiro?
E que o bão da sobremesa?

- Mais maior que a internet?
E que a barba do Mamede?
E que aquele dicionário
Sem fim do Caldas Aulete?

- E mais ainda que a Bíblia?
Que a coragem do Biér?
Que o coração do Lelê?
Que o giro num carrussér?

- Que a população da China?
Que o gado do boiadêro?
Que a peleja dum cristão?
Que a tristeza dum vaquêro?

- Mas será assim mesmo
Tão maior sua beleza
Que o coco do do Pandêro?
E que toda a natureza?

Pois as uva confirmaro,
E a maçã desconfiô.
Mas quando te vis-viu...
Virou em maçã-do-amor!

(Gustavo de Paula)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Soneto da obscenidade I

Já decorei, de cada aluno, o nome.
Corrigi seus cadernos e apostilas.
Descobri com quem moram e o que comem.
(Amo as suas realidades descobri-las!)

No diário, anoto toda vez que somem –
Sinto deles a falta em sala ou em fila –
Tenho-os no e-mail e essas coisas de jovem.
Leciono até na lan-house da vila.

Estimulo o prazer pela leitura.
Deleite na labuta e na exaustão.
Ensino: o gozo mais lascivo é o estudo.

Amo os alunos e a licenciatura!
- Mas qual motivo pra reprovação?
Entre quatro paredes, vale tudo.

(Pau no Gu)

sábado, 12 de novembro de 2011

Coreographia II

A José Silvério

I

Pai do Gol, esposo da Bola,
Coreographo na vitrola,

Asceta do verbo e do rádio,
Aedo das liças no estádio,

Irradiador ou irradiante?
Ou radioativo reboante?

Raio: a luz que emana de um foco
E se alastra em nós em voz e fogo.

II

Se a bola rola, vibra o canto;
Gládio em campo, voz de comando.

Se de trivela, arqueia o entoo;
E se chapela, alça-o em voo.

Bicicleta, manobra-a em dós;
Defende a meta, fecha a voz.

Cobra o pênalti, tom suspeito...
Se estufa a rede, estufa o peito!


III

E que golaço! E que golaço!
De cabeça, voleio ou braço.

Com artilheiros, tanto gol,
Mas foi você quem os marcou.

Em uma só voz, nossa vista
Mais corada, e atenta, e imprevista.

Em uma só voz, nosso grito
Intensificado: negrito.

IV

Pra cantar, mister é escoltar
Rodopios e curvas no ar.

– E quem me ensinou foi você,
Ainda antes de Mallarmé,

E de Orides, e de Foucault,
Eu menino, em colo do Vô –

Pra cantar: sílabas na cola
Da dança insurgente da Bola.

(Gustavo de Paula)

domingo, 6 de novembro de 2011

Pas marché I

Assombrado, General Flores descobriu que, dali em diante, seus passos pelas ruas jamais poderiam ser os mesmos de tantos anos e de tanto uso. Notou que, se tropeçasse, faria tremer as raízes centenárias das árvores do bairro, os tanques de guerra da cidade, os tratados comercias do país.

As donzelas, enfeitiçadas, sentiam o movimento brusco das coxas monumentais, transtornando a direção dos ventos, erguer cada prega de suas saias, desde a cauda, cada sobretúnica, cada corpete.

Os senhores de tatuagens e barbas ruivas, muito viris e honrados, sim senhor, fugaz não se acomodavam a seus apetites.

Aos anciãos, causava repúdio a vitalidade daqueles passos. Aos miúdos, temor. Não dormiriam aquela noite: alguns, apavorados com a possiblidade dos passos alcançarem seus quartos; outros, receosos de que não deparassem outra vez, em vida, com passos tais que pudessem seguir até onde fossem.

O estouro da manada refrearia sua explosão alucinada, caso se pusesse em seu caminho, naquele dia.

Nuvens teriam anegralhado o céu para a tempestade, caso se atrevessem a permanecer sobre a certeza intolerável daqueles passos.

As folhas pesadas do outono se precipitavam desejando mais que tudo serem trituradas por aqueles pés indiferentes.

Passos sem pressa nem preguiça:
Nem em falso nem passo a passo.
Nem passo o ponto nem ao passo que.
Nem básico nem avançado.
Nem paço nem compasso.
Nem Passo Fundo nem de rosca.
Nem escoteiro nem escuro.
Nem andante nem allegro.
Nem ida à labuta nem volta ao lar.
Nem marcha nem ballet.

Passos, sim, de quem fez, do mundo, o próprio quarto.
Porque fizera, de alguns dois olhos castanhos bem escuros, o abajur.

(Gustavo de Paula)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

da relva

olho a jabuticaba
e é como se me
olhasse de volta
da casca reluzente

súbito, empalideço
coração dispara
sim, ela me olha
e quer me devorar


(biel)

domingo, 16 de outubro de 2011

Soneto das orientações curriculares I

Toda manhã, tão fresca e pontual,
É servida, na escola – hm... saliva! –,
A bosta do prefeito. Sem igual:
Mais cheirosa, e gostosa, e nutritiva.

É obrigatória, a refeição, com sal;
Mas, quando chega, quem não grita “Viva!”?
Queixas, apenas no atraso da tal.
Afinal, se o governo no-la priva,

Como ensinar pro aluno assunto algum?
Daí uma alternativa incomum,
Nos assaltos de uma febre terçã:

Se convertêssemo-nos ao Islã,
Todos anos, no mês do Ramadã,
Faríamos jejum, jejum, jejum...

(Pau no Gu)

domingo, 9 de outubro de 2011

Soneto do totalitarismo I

Toda. Claro. Sob hipótese alguma.
Nunca. Conforme. Bem. De todo modo.
Com sorte. Era uma vez. Além. Nenhuma.
Todos. Em condições tais que. Ou. Logo.
Concordo. Não. Jamais. Nenhum. Contudo.
Em tempo algum. Decerto. Logo mais.
Sempre. Por conseguinte. Mas. Sim. Tudo.
Sem cessar. Frequentemente. Sem mais.
Segundo. Em todo caso. Vê. Por isso.
Todo tempo. Em virtude de. Porquanto.
Senão vejamos. Bem. Por falar nisso.
Isso. Sem dúvida. Por que. Contanto.

Ora. Às vezes. Em qualquer ocasião.
Afinal. Em razão de. Exceção.

(Pau no Gu)

domingo, 2 de outubro de 2011

Soneto da ação comunicativa I

O professor agarrado a seu giz,
E os guris explodindo seus hormônios;
Firme no giz espesso, mãos febris,
E os guris depredando o patrimônio;

Risca cada letrinha, mãos sutis,
E, aos murros, os guris, com mil demônios;
Jardina toda letrinha de lis,
Rega-as de sangue, os guris, quais lacônios.

Soa o alarme de incêndio na escola.
Filho da puta! Abre a porta, veado!
Antes, em Plínio, o Jovem, um floreado.

Rombo e berro: emancipação carola.
Cuidando o fogo achar Plínio frajola,
Professor morre junto ao namorado.

(Pau no Gu)

domingo, 25 de setembro de 2011

Soneto da diversidade II

Linfogranuloma venéreo? Sífilis?
Herpes simples genital? Granuloma
inguinal? Infecção por trichomonas?
AIDS? Hepatite B? Candidíase?

Gonorreia? Infecção por clamídia?
Molusco contagioso? Condiloma
acuminado? Fogo na redoma?
Pediculose do púbis? Na mídia?

Não, não!... Diversidade de vacina:
De varicela, de poliomielite,
De febre amarela, de meningite,

De febre tifóide, de difteria,
De rubéola e até de preguicite!
Primeiro mundo filmando: sorria.

(Pau no Gu)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Dança contemporânea III

Krente_na_cam mamou no silicone
Uns 500 ml de borracha
E nem era daquelas de apagar.

Em seu novo serviço, toda vez
Que o chefe sai, faz sexo virtual.
Qualquer coisa, é só fechar a janela.

(Gustavo de Paula)

Soneto da pedofilia I

Desbravou bocetinhas das meninas
Tão pequerruchas das primeiras séries.
Tomadas de repulsa, mil mulheres,
Mães, professoras, prefeitas, caftinas,

Vieram protestar a desatina
Do professor. Sob todas intempéries,
Desbravou cada delas, feito alferes,
Saciando a sede de justiça dina.

Mas machos processaram o devasso.
Não se fez de rogado, desbravou
Juízas, promotoras, advogadas.

Legisladoras, mui inconformadas,
Vieram... Se deixou prender: brochou.
Muita arrombada pra pouco cabaço.

(Pau no Gu)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Soneto do contrato pedagógico I

Trajar os uniformes adequados:
Peles de Vênus, lingeries e vendas.
Podem vir de enfermeiros, de soldados...
Só não trazer essas caras horrendas!

Portar, sem falta, todos materiais:
Espremedor de seios, facas, cruzes
De Santo André e brincos genitais,
Espora, arnica, soco inglês, capuzes.

Anotem: sem esterilização!
Tudo isso contará na avaliação.
Silêncio, só de horror. Uivo, de gozo.

Podem sair da sala, se de gosto.
Só não vale chamar mamãe, paizão,
Prefeito, Deus, Satã ou TV Globo.

(Pau no Gu)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

おはようございます

filé de truta ao molho de acácia
um chá da tarde
sabores tão aéreos
um gole pro santo
pra não perder o prestígio
e o encanto

e o dia corre tranquilo
manhã sonolenta de domingo
aos pés algum vulcão
no horizonte o sol desdenha
da cara feia do dragão

domingo, 11 de setembro de 2011

ele

lambe lambe lam
unha que língua
lisa desliza
lua lua tudo que toca
luva me veste ao avesso
lambe
lisa
a lua

atalho

o destino me chamou
olhei em seus olhos
verdes
e não fui

escolhi

e as estrelas tiveram de se realinhar

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Soneto do protagonismo juvenil I

Sob uma salva de apupos e escarros,
Entrou na sala, o professor ansioso;
A pontapés, é claro, feito os garros.
Isso porque humilhado, não nojoso.

Baixou as calças, submisso e bizarro.
Ficou de quatro, lambendo um seboso,
Enquanto, atrás, o gurizinho zarro
Palmatoava bravo atrás de gozo.

Sentiu um pipizinho mijadeiro
Leve aquecendo-o com o banho de cheiro.
- Fim de bimestre, tem de entrar no malho!

Contrato pedagógico matreiro:
Pendiam tantos virginais caralhos
Que o Prazer embriagou-se do Trabalho.

(Pau no Gu)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

a cidade

a cidade seca o que toca
vira fumaça
e é no olho
que tudo começa

domingo, 28 de agosto de 2011

bucólico

há aqueles que dizem
por dizer

olhos fechados
o sol incomoda

deslizar a mão sobre a terra
sentir as raízes de uma árvore próxima

é preciso dizer
e de olhos fechados

os braços
abraços
bracinhos
mãozinhas
mãos
e mesmo barba

(um olhar
ali
não me achava
louco)

Soneto da inclusão I

Nada mais de cachorros nem de gatos
Nem de chinchilas e nem de coelhas
Nem de porquinhos-da-índia nem de ovelhas
Nem de hamsters nem de papagaios

Nem de cavalos nem de vacas gordas
Nem de galinhas nem de três porquinhos
Nem mesmo dos formosos menininhos
Nem dos docentes, das coordenadoras...

Enfastiou-se desse povo alto:
Em cada disciplina, nota azul;
A dispensar, dos médicos, o laudo.

O que domesticou foi canguru,
Que, pelo gabinete, saía aos saltos,
Quando mirava a vara no seu cu.

(Pau no Gu)

Haikai da avaliação I

Olha, seu maldito,
Sua tia do primário
Já lhe tinha dito!

(Pau no Gu)

Soneto da diversidade I

A fila dos meninos, à direita.
A fila das meninas, para o teto.
A fila dos travecos, à espreita.
Fila dos hermafroditas, correto!

A fila dos gayzinhos, para o centro.
Fila das lésbicas, sentido Meca.
A fila dos andróginos, por dentro.
Fila das drag queens, seguir a seta.

A fila dos hijiras, na antessala.
Fila dos queers, prêmio com o Prefeito.
Fila dos simpatizantes... aceito.

Fila dos assexuados, rala peito!
A fila dos eunucos, abram alas.
Agora já podemos ir pras aulas.

(Pau no Gu)

Pas de deux (ou do casamento) I

(por supuesto, à Bailarina)


Pois que não se pode,
Em areias movediças,
Nem dançar pagode.

(Gustavo de Paula)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Do alto

O vento sobre as pálpebras
De leve
Alinha a sobrancelha
Devagar
Alisa a testa
Quase num afago

O cabelo de leve começa
A mexer-se
Um frio invade pelo pescoço
A camiseta
E um ruído
sopra as orelhas

De leve
(Lhe sobrou tempo)
Coça a bochecha ainda
Ressentida do beijo