sexta-feira, 31 de outubro de 2008

poema em 2 min.

um poema hj nem é lido
tdo é reduzido
ñ há tempo pra poesia
qdo muito
pra t olhar

(biel)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

da rua

Trabalhava. Não sabia mais da fome. Não tinha tempo de ir pra casa numa manhã, quanto mais de madrugada. Sabia a escuridão, mas não podia adormecer. Jamais. Da última vez levaram-me os pedaços de papelão. Se eu pego... Nascera ainda no caminho e só fora registrado com 76 anos. Ponto alto de sua vida. Mas na fronteira não é lugar bom de nascer. De morrer se vê que é fácil. Mas de viver é ainda muito mais difícil.
Caíra numa cidade estranha que não lhe via o rosto. Eram assim mesmo, cegos. Não cabiam em si e entupiam-se de coca-cola nos almoços de domingo. Uma vez achou dinheiro e resolveu vou ver o que tem de bom nesse troço preto. Tomara de um gole. Há uma semana sem comer e o dinheiro gasto em coca-cola. Colou-lhe o estômago às avessas, sentiu o ácido vibrar-lhe nas entranhas. Mas superou.
Sempre se superam as dores, os açoites dos guardas noturnos, os chutes dos playboys, uma queimadura que lhe corrompera a estética da perna que julgava bonita pra chutar uma bola, os olhares asquerosos das moças. Bom, esses doíam mais. Era vaidoso. Tinha um caco de espelho que não largava mesmo cortando-se com ele durante alguma madrugada mais fria ao encolher-se descuidado sob um banco de alguma praça com um guarda distraído. E com o auxilio do refletor de seus olhos ainda claros atrás da escuridão do encardido do rosto e do fedor de carniça que o habitava, sempre penteava o cabelo com um pente quase sem dentes.
Era esperto, não falava porque não tinha aprendido. Não sabia nem pedir socorro. Quando queimou-se fora levado ao hospital por bons samaritanos da manhã que o olharam e se eu o levo agora meu almoço será mais agradável, não pode dizer aos médicos nem a polícia que seus agressores estavam no mesmo corredor ao lado de uma empregada doméstica que apanhara muito pelo seu emprego, embora nada houvesse feito para pô-lo em perigo. Mas já enganara tantas vezes alguns exploradores noturnos. Uma vez, Ele tinha então 22 anos, um senhor se aproximara com um prato e oferecera-se para levá-lo pra sua casa e dar-lhe banho. Comeu tudo que tinha no marmitex e decidiu-se por acompanhar o sujeito. Talvez conseguisse mais comida. Adentrou aquela enorme casa e viu fotos do senhor com uma mulher, duas crianças apareciam numa foto e um bebê povoava as paredes. Ou eram dois? Não sei. São todos iguais. O senhor o conduzira ao banheiro tirou-lhe a roupa e o colocou dentro do box. Depois começou a despir-se também. Ao virar-se em direção ao senhor para tentar mostrar-lhe a sua fome que não fora satisfeita, deu com o senhor também faminto, sem roupa e erguido de uma forma que só adolescentes com prostitutas na primeira madrugada da vida. O senhor adentrou o box enquanto ele saiu pelo outro lado da porta que corria sobre trilhos instalados no chão. E ainda na saída, tivera tempo de pegar algumas roupas do cesto de roupas sujas e uma banana que recusara-se a comer num primeiro momento por lembrar-se do senhor e sua espada de cavaleiro noturno, mas mais que o nojo pode o jejum.
Envelhecera nas ruas e sem uma palavra. Com a dura cara de quem vem pra viver, mas nasce e vive na fronteira. Que é lugar de morrer.

(biel)

todo rio segue pro mar

Eu tenho que ir como quem parte um prato, mas não posso. Tenho que ir, mas não quero. O amor fica pra trás como ficam mais adiante as águas turvas do rio turbulento e esmorenado pelo barro deslizante desencarnado da pedra. Ainda me souberam umas despedidas, mas não a desejada.
E o rio me levou.
No desaguar do rio manso, mas persistente, suaram as lágrimas o sal do mar instável como meu rosto no espelho. Eu buscava amor e te encontrei sem saber que achara. Foi então passeando na lagoa que se liquefez um sorriso seu, em águas musgolentas refletoras de uma lua sem tamanho ou forma diante da chuva que caía num mendigo sob o céu descoberto.
Tudo ganhara nova significação. Eu e água. Eu e noiva. Uma pavão fêmea que buscava algo, mas que jamais poderia ter. Em mim não sobrava ave, nem no canto, nem no vôo. Mas como não poderia deixar de ser, houve verde e esperança.
No calar do dia, como claro que não podia deixar de ser ao som dos trovões e da chuva tonta que esbarrava para morrer na janela dos meus sonhos, foi que um segundo ou menos, ou quase isso, as cobras me teriam inveja diante do envolver-se em doce veneno que fora teu hálito penetrando minhas narinas e conjugando a respiração num algo que precipitadamente pensei antes fosse um beijo.
E fora ali, uma nuvem no céu escuro da noite refletindo a luz colorida de alguma boate, que, se perdi algo antes do meu nascimento e passei a vida toda procurando, eu achei. Depois do espanto dos seus olhos, o desvencilhar-se do meu corpo como um quase nojo se não fora antes mais que espanto, não sobrara muitas opções. As ruas estreitaram-se, as portas se fecharam, os barcos naufragaram, mas o meu rio não secou. Mergulhei como quem queria pedras nos bolsos, mas me desnudei antes.
Na noite virada o ano começa diferente. O ano não, mas um ciclo onde a estação já não é mais a dela. Onde os ventos já não são o halo que eu aspirava diante da hipótese da companhia. Aqui e agora não nasço. Também não posso (morrer ainda). Não enquanto ainda for viva essa espera. Eu: um pobre pato feio afogado na lagoa, aquela mesma da lua dos seus olhos a sorrir em plena chuva noturna. Num desespero derradeiro que se formou desde a minha partida precisa busco um retorno no resgate do apartado coração agora pertencente à selva dos dias sem fim de ilhas remotas cravadas em anormais arranha-céus onde não chove mais. E um dia ainda há de atravessar minha janela, aberta desta vez, um outro rouxinol a vir se perder entre meus espinhos.


(biel)

da cor do dia

o negro falava grosso
resgava o ar da madrugada
a manhã dos pobres
um doce bom dia
pra quem trabalha pesado
os olhos ainda baixos
aparentava quarenta e cinco anos
já passava dos sessenta e seis

(biel)

da noite

é a noite,
quando tenho medo
de morrer.

mornas minhas presses
quase sem fé
buscam o céu.

os lábios tremem
sem saber
-carolina!

(biel)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

perfeição

pés descalços
mãos também
vôo longe
pra ninguém

volto só
amo mais
toco o chão
olho atrás...

olhos doces
sem algum
sal do mar
seu redor

vai voltar
vai ser minha
amo-te
branquelinha

vou salvar
no cabelo
margarida
um sorriso

sem a rima
perfeicão
cai por terra
é maior

(biel)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

águas

escorre em trânsito no horizonte
a chuva
e deixa no ar a liquidez virgem do seu
sorriso

cada pé se sabe no passo.
na vidraça ainda, suicida,
a gota mais bela
passa despercebida.

ainda lambeu meu rosto em regresso
a lágrima
trespassada pelo sorriso azul do céu na terra
arco-íris.

(biel)
ó, minha
tontinha de passarinho:

sois poeta, sois da lua,
voais nua - mas sem norte,
sois das sortes, das fortunas;
eu sou amigo das árvores
e das raízes profundas,
sou das ruínas, do arado,
sou dos sempres e dos nuncas,
das almas rústicas chãs
- sou tumba.

(Gu)
ó, bem-amadinha,
eu pego o teu nome
denso como só o
que sedimentasse
ao longo de um ano

eu pego o teu nome
delicadamente
cheio do pavor
de rachá-lo ou mesmo
de até estilhaçá-lo

e corto, com ele,
minha face toda
componho desenhos
nervosos, rupestres
escorrendo informes

eu per-corro os riscos
e dos riscos correm
os rios escarlates
escaldantes
o tridente, as lavas.

(Gu)

questão filosófica:

se o mundo é tão pequeno
porque pesa tanto?

(biel)

sábado, 18 de outubro de 2008

Quadrinhas improvisadas

Se um dia eu soubesse,
dos seus olhos, a cor,
arco-íris virava
quintal do vovô

Se um dia eu soubesse,
dos seus olhos, a cor,
Cristinho descia
virava pintor

Se um dia eu soubesse,
dos seus olhos, a cor,
o mundo acabava
ou se virava em flor.

(Gu)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

o outro

me espalho no espelho
mas salvei
no teu cabelo
uma flor

(biel)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

horizonte

no céu
que eu abraço
uma estrela
me escapa


(biel)

luz

a ilha do farol não guia,
suplica companhia.

(biel)