terça-feira, 18 de dezembro de 2007

ilusionismo

Na risada dela um quê de veneno surgiu fazendo voltar um sentimento já esquecido que causou-lhe terror. Ela mesma o percebeu quando já era tarde demais. O estrago estava feito. O ápice da alegria cristalizada em uma risada maligna. Desfarçou, ainda, com uma imitação de voz infantil que mirava no nada, sem saber que acertaria tudo, menos o alvo. Ele sorriu ainda mais disfarçadamente e como um peixe que se afoga no próprio mar, e por vontade própria, atravessou a sala, não esbarrou no garçon, mas interrompeu a palavra mágica ao beijar quem a pronunciava: ela.

(biel)

domingo, 16 de dezembro de 2007

Ordem

Esse meu amor pisado
espragatado
carcomido

-Bota
no lixo, meu filho,
Vai ficar sujando o chão?

(Gu)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

no fim do túnel

não há heróis
no céu dela flutua capa nenhuma
nem lua sombreando nuvens também inexisentes
mas no dedentro sobrou
uma luz
uma fagulha
faísca
algum não sei quê de feitiço
e ressoou no seu semblante
o halo lunar.

(biel) Para Caroltcha

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

depois do tiroteio

segurou-a pela cinturinha
chegou seu sexo volumoso ao dela
apertado.
sob as calças se sentiram
acabara a amizade!
tantava ela em vão vazar
os braços hercúleos lhe serpentearam no redor
e, humedecida, rendeu-se.
era dela o gozo,
era dele ela.

(biel)

era só um cara

dispara contra o sol...
-corre!
-corre!
ele sabe que jamais correrá o suficiente
mas
por um
só um
uma
ele vence.

(biel)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Globalização

I

(B)atman

II

Om line

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Em sua primeira vez

Ele
des
a
brochou...

(Gu)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Primavera

Ela despontava, na manhã-de-cada-dia, ainda antes da derradeira estrelinha se despedir, com a mansidão das calmas ondas (as ondas também parecem-se calmas), preguiçosamente, apenas insinuando sorriso. Como quem só desabrochasse às mãos de lavrador já senhor.
Vinha, pois, alguinho exausta das remotas marinhas viagens. Atlanticamente, inundava o permeável pelos recantos. Vagarinhosamente, em slow-motion, em gotas lacrimais.
Guiado pelo mântrico canto dos passarinhos que lhe prestavam serenata a Ela, o Ele chegou na escola, na nublada manhã de final de ano e, sob as doces aves marinhas, desejou do profundo do coração um bom dia pra Ela. Límpido, gratuito, a granel. Claro que está que segredos toda gente encerra, entretanto Ele oferecia puramente uma tolice gostosa, uma ausência imprudente (por um {a}triz inventada) de madureza. Tangenciando a irritação, além da contemplação.
A estrelinha abençoou os meninos suspirosa e, enfim, seguiu para seu destino cósmico, para outras bênçãos.
Ele adivinhava os de-sertões pelos quais Ela atravessara no antanho. Até porque Ele há muitíssimo caminhava.
Todouvidos, Ele dispunha inteira sua audição para as parábolas d`Ela, quando que lhe foi segredado que havia dia que não existia. Sim, creiam!
Desatento que era, mal repararia que alguns dias não viriam à luz. A extensão às pessoas que não existiam não exigia largueza intelectual ou intuitiva, não obstante Ela alastrasse a ponte para Ele atravessar novamente.
Findaram por concordar que dia ora fabulado não existia.
Sem bastante acelerar, concluíram inclusive que era até possível conceder existência a tudo. Não que fosse roubar o fogo sagrado e pirulitar por aí fazendo e desfazendo. Nem almejavam tanto, queriam mais era aceitar entusiasmadamente o curso da natureza e convidar a participar do ciclo aconchegante o que estava (sem assim o desejar) deslocado na festa.
Navegando (pois que navegar é preciso) rumo às salas de aula, sem se aperceber, ultrapassaram-nas, bem como o tema da parábola. Tem coisa que não permite regresso, via sem retorno: se a gente lê um poema lindo (logo, perigoso), não dá pra desler depois; se a gente diz sim pra Iara, não dá pra voltar à tona, soltando das mãos dela. E não há Arnold Schwaznegger que volte!
Assim sendo, não puderam retroceder os passinhos serenos. Ela já sabia um pouco matar aulas, também que vida e morte são casadas e, por fim, que assistir diligente às aulas não ajudaria muito a existir nem nada. Ele aprendia repentinamente espantado tudo de única vez. Com o coração descompassado agitando o paupérrimo e cristal peitozinho. Como faminto há semanas desérticas, se servisse de um estendido banquete apressadamente, temeroso da súbita morte de seu corpo. Era possivelmente o pioneiro temor da morte.
Um-a-um passo a frente, o chão tremia... o chão já não existia
Ela rogava que Ele a conduzisse, todavia a gente e eles sabiam que, indicamente, Ela bussolava o norte d`Ele.
Percorreram pela escola intereoranamente, flutuavam com muita cautela pelos asfaltinhos, de enfim terra roxa.
Impossível a Ela calar a surrada memória dos tempos no Saara. Pisara com seus pezinhos ainda suaves pela primeira naquelas ardidas areias há quanto tempo? Em travessia de busca do seu amor. Quantas e quantas vezes não tombara de sede? Os cães rosnando com seus olhares de fogo. O sol fustigando a pele branquinha. E Ela sozinha. Aí já sem saliva para berrar, para sussurrar que fosse pelo seu amor.
E Ele beladormecido.
De espera uma vez, chorou copiosamente o que deveria beirar sete dias e meio e um quarto. Recuperou o que pode com suas mãozinhas de pianista e bebeu as lágrimas a fim de sustentar vindouros dias.
Irascível, num dia desses, de solavanco, assustadoramente solapando o que quer que estivesse pela frente, as retinas da nossa heroína frearam numa ventania desabrida. Ela era e é tão miudinha, magrinha – quem viu pode confiar comigo que sim, sem exageros. Se houve desigualdade algum dia na História, decerto que foi nesse enfrentamento. Ela, ciente de sua fragilidade, decidiu lépida se enterrar na areia. Quem não pode com seu inimigo, que se alie a ele - antrofagicamente.
Degradualmente, a presença do seu amor foi se tornando menos oásis e mais carne. Assim que ela pode ir se liquescendo, infinita e profunda, nas ondas que avançam pelas manhãs com a lerdeza de quem anda devagar porque já teve pressa.
Pois não é que agora os meninos defrontavam com uma das salas de aula, entrevada de toda, agasalhada por uma grossa cortina negra, não devia de nem trazer recordação do que fosse luz.
Sim, Ela sabia ler cartas de tarô, traçar mapas astrais, afagar as constelaçõezinhas muito afetuosamente e compreender não menos afetuosamente o afago oferecido por elazinhas em troca, nas enigmáticas respostas. Verdade que no deserto Ela só tinha as constelações por companhia, porém nem sempre suas relações foram as mais cordiais, não.
Diga-se de passagem: Ela mais Ele coincidiam em tudo em seus mapas astrais, exceto na lua.
Bem, Ela havia tirado a sorte do dia, conforme o de sempre, e quem a visitava então não era senão a temível Torre, em sua plena potência e esplendor: virtualizando a edificação e a implosão.
Concluíram que a sala não existia, claro. Quero dizer, escura, esbravejando total escuridão. Vacilaram um longo período. Entretanto, com as mãos e pés trêmulos, num ímpeto violentíssimo, os meninos adentraram na torre, pacificamente, considerando melhor mesmo deixar a sala existir.
Como primeira medida, após descerrar a porta, e simplesmente entrar (coisa que há tanto não deveriam ter a coragem de fazer), acenderam as luzes artificiais pelo interruptor. Como apenas limpassem as feridas, nada afoitos.
Logo após, curiosamente Ele já tomava a dianteira desde que deslumbraram a sala, caminharam até as janelas e desvelaram aquelas velhas cortinas conservadas que proibiam a vida. Desvelaram-na tremendo, deixando queimar com delicadeza e brandura o êxtase de alguma santidade, o fervor da bondade e da comunhão deslizando, escapando pelos sorrisos, pelos olhares brandindo. Deixando escapar. Com o poder do milagre latejando nas mãos, já podendo e curando.
O dia, como já disse, estava nublado, não foram muitos tampouco muito vivos os raios solares que invadiram a sala. Mas que importava? os raios agora eclodiam de dentro, como do fervilhar do centro da Terra.
Por fim, arrumaram com carinho e quase geometria as carteiras da sala, além de desenharem desenhos muito lindos e pueris pelo quadro negro. Creio que também escreveram versinhos, estou errado? Bom, assoprando a ferida. Colocando band-aid colorido.
Não sabiam. Era matutino por demais pra saber, todavia, naquela sala de aula solitária, limitada por concretos, eles haviam semeado, se assim me permitem dizer, com amor, uma filhinha.

(Gu)

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

show da vida

-acreditar chorando?
nãoposso
-eu vi o invisível e
ele tinha o seu rosto
-nãoposso
-mas vc estava lá
-não posso
-o show vai começar
-não...

(biel)

outra variação

Há abismos no caminho
todinho
Ver-te sua-visa o mundo.
Cansei de beijar o telefone depois que você desliga.

(biel)

variação de outro poema matutino

na manhã
bem-te-ví
não, não
fechei os olhos...
as borboletas.

(biel)

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Tetralogia IV - Cético ou Asceta?

É que a morte não existe.

Tetralogia III - Quadrado semiótico

Tetralogia II - Um por todos e todos por um

(Mosqueteiros)

(Gu)

Tetralogia I - Sacrifício

Morrem Romeu e Julieta, e vive o amor

Morre Cristo, e vive a humanidade
Morre Cristo, e nasce Cristo
Morre Cristo, e se salva o Cristo

Morre o bicho, e vive o homem
Morre a planta, e vive o homem
Morre o homem, e vive o verme
(em outra língua)

(Gu)

Adão e Eva

O mundo é redondo,
como uma maçã.

Concorde

Disse Cristo à sua grei:
-Dessa idéia eu gostei!

(Gu)

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

chega!

agora vamos parar
de dois versos apenas postar!

(biel)

a diferença

eu não sou um homem de grandes feitos
prefiro ser uma mulher nos mínimos detalhes

(biel)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

noturno

a noite não me leva,
mas pesa muito para um só.

(biel)

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Súplica

Me dá beijo... que seu beijo
Tem gosto de relampejo.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Tarde de domingo

-Por que o cheiro do seu pescoço é tão quente?
É quente sua barriga
Quente e doce.
Quente e salgado.
-É tão quente
-Dolorosamente quente.
-Sacrificialmente quente.-
E os sorrisos não cessam de sorrir.

(biel)

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

O cio e o sal

Mendigo um carinho.
Vez ou outra me esmolas.
Me lambe doce e lasciva os lábios.
O cio possui os corpos,
mas o sal (dos corpos) só em sonhe se
mistura.

(biel)

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Mundo mundo vasto mundo

Se eu me chamasse Raimundo
Quase que eu já era o Fagner...

(Gu)

Trova trevosa

- ... queria chupar
aquele cusinho.

- E se ela peidar?

- Eu trago
sozinho

(mais ou menos Gu)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

HaiKai Fraterno

(pra Carolitcha)

Minha irmã Carol
É muito mais enrolada
Do que caracol

(Gu)

HaiKai Enfeitiçado

(para o meu amorzinho: Cíntia)

A sombra pontua
O que somos pro Sol quando
Ele vê a Lua.

(Gu)

quinta-feira, 12 de julho de 2007

à noite

São delírios!
Delírios!
Você sobre os lírios,
a cama de lírios
pra quê lençois nessa lírica primavera?
Em exposição: o teu céu.
Delíros! De lírios!
Neste quarto tedioso e outonal.

(biel)

por que os sinos dobram?

Soa lá o sino do beijo.
Aqui não tem tristeza.
Eu caí
do cavalo de tróia,
ou jibóia?
que veio e, vindo, dragou.
sobrou a marca do tapa estúpido
e a outra face. Ao meu amor
a segunda chance de me assassinar.

(biel)

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Magma

(pro Rê)

O geógrafo que é sabido
E põe muito intento na terra
Também sabe o norte dos ventos
Sabe do núcleo e da litosfera
Sabe das paisagens, dos climas
De fora, de dentro, etc...

(Gu)

quinta-feira, 21 de junho de 2007

o grito

os mortos no caminho
não sentem o calor
do abraço de quem sobra
com o peso da dor

a rosa de hiroshima
de novo e de novo
só aduba o asfalto
pra rosa do povo

os donos do mundo
os donos do muro
po~em o dedo na ferida
na chaga que cristo esqueceu de fechar

o mundo não para de girar
eu não quero mais lutar
eu não consigo mais pensar
até quando Munch vai acertar?
só o que me resta é gritar!

gritei pro nunca mais
e alguem me ouviu
minha voz cresceu,
eu não estava sozinho!

(biel)

domingo, 10 de junho de 2007

na manhã

na neblina da manhã
você fugia
não de mim,
dos meus olhos!
e eu não te vi ou existi em você
mas mesmo assim o poema se faz
como se eu tivesse te conhecido
e a neblina da manhã
fosse teu disfarce.

(BIEL)

segunda-feira, 28 de maio de 2007

luz

na noite ninguém
ninguém no nada do meu quarto
nem no nada da minha sala
cozinha ou banheiro
ninguém no escuro
pra me velar

(BIEL)

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Versos a uma menina, no ônibus

Moça das lindas mãos
Sozinha, com seu I pod,
E eu só, com cara de bode,
Tudo pode acontecer,
não pode?

Te abro a janela
E teus cabelos ao vento
Colorem o dia,
o cimento.

Felicitações aniversarescas

Rythíssima de Cássia, de nome impossível,
Sei o quão é difícil me guardar horário
Nesse dia mágico, e pleno, e incrível.
Mas, se possível, ouça seu destinatário
Pois quero, no seu aniversário, o colírio
De comemorar em delírio sua beleza sem páreo.

(Gu)

domingo, 13 de maio de 2007

Néctar

(pra Vi)

A Vi é a mais
arco-irismente linda
porque não é um pavão,
mas um
tatu.

(Gu)

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Um poema teleológico


De homem pra homem

(um poema à laia de Marcos Rafael (H5) e para ele)

Não te aperreis, meu rei!
O pus que já escorre de teus pés
vazou das minhas linhas atropeladamente
por extensas páginas
íngremes.

Claro está que, caso consentissem,
palmilharia a decorada trilha
indelével de meus pés,
todavia só os teus
só o teu sangue pode regar as
também sedentas
flores que desmaiam pelo caminho.

Colho um tanto de tuas lágrimas
Pra desenhar estas palavrinhas
e que elas reflitam, oxente!
que rei é rei: haá que ser senhor de toda vereda de vosso reinado!

Deposito em teu alforje somente o que deverás carregar consigo:
nada de coroa, de cajado ou de Frei Galvão!
mas sim, de padim pade Ciço, uma oração
(que te repouse o sono)
a brabeza de Lampião
(que te vista as vergonhas)
e mamadeira de vulcão.

(Gu)

quarta-feira, 2 de maio de 2007

(pra Jean)

É enorme meu carinho pela Jean porque:

depois de tantos anos, de tanta labuta
ela ainda tem planos, ainda debuta.

(Gu)

domingo, 29 de abril de 2007

A terceira margem do rio

ou com quantos
paus
se desfaz uma canoa

(Gu)

plural

Pão ou pães
é questão
de opiniães

Mas tem não
discussão
Sua graça né
Guimarão
é Guimarães!

(Gu)

... mas não podem roubar a primavera

(pra Tíntia)

Ai, ai, ai, Cintola,
Vou sair pedindo
Ao grêmio da escola:
Seu sorriso a pino!
Sem boina ou cartola!

(Gu)

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Logística

A dor de cabeça?
A chuva leva.
O cansaço?
A chuva leva.
O desespero?
A chuva leva.
A mágoas?
A agonia?
As angústias?
Os amores mal amados?
E a tristeza?
A chuva leva.

E nesse leva
Falta o traz
E para o leva e traz
Que ela traga você pra mim.

(biel)

Poema egocêntrico

Eu...
Eu...
Eu...
Eu sou eu!

(biel)

Estações

Na prima
Na primeira
Na primavera

No outro
No encontro
No outono

Vai saber o por quê!

Das estações me sobram os nomes
E jogos palavrísticos

Lembranças?
Lembranças não
Mas ela me lembra a primavera!

(biel)

Um instante

O mar de prata se estende rasteiro no céu
Varrendo desesperos e tristezas
Com ondas ventâneas
Que parecem esmurrar e nocautear
Tudo o que me faz mal
E nesse instante
Eu estou bem.

(biel)

O bem puro

Veio luminosa
Iluminista
Iluminou meus passos

Comecei a procurar sombras
E constatei que, de fato,
Elas não existiam
E eu assustado
Desisti.

(biel)

quarta-feira, 18 de abril de 2007

teoria da revolução

parei pra pensar
não saí do lugar

(biel)

domingo, 8 de abril de 2007

Livre-Queda

pulei...
pro nunca mais
pra sempre
e o fundo do fim findou
e não tinha fundo ou fim
e Eu fui feliz

(biel)

Correção

Esses 2 últimos poemas são meus, do Gu... desculpa não ter assinado... esqueci...

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Vésper

É muito bom quando a fofa da Tristeza chega com hora marcada!
(Por exemplo quando a gente sabe que a vó da gente vai
morrer
no mês que vem)

Porque daí dá pra gente sentir o calor da espera
Dá pra gente arrumar a casa direitinho
com muito carinho
A gente espalha flores pela calçada
geometricamente,
como fosse espontâneo

E a gente chama as borboletas,
os beija-flores,
as joaninhas,
todas as cores
para enfeitar nosso jardinzinho e dar as boas-vindas

Depois faz faxina completa com bastante dedicação e felicidade
Deixa o banheiro limpinho e cheiroso
Bota a roupa de cama mais macia e com mais cara de mãe
Prepara uma comidinha bem caseira
Nada de coisas francesas,
É arroz, feijão e carne moída mesmo!
mas com o tempeirinho mais terno
de uma ternura ancestral
Faz limonada
Arruma as almofadas muito alinhadas
Por fim, escolhe o disco mais triste (apesar da alegria) e deixa rodar...

Pra humildemente fingir espanto quando a tão amada quanto esperada Tristeza chegar
E convida-la pra ficar
perdoando a bagunça.
Prefiro os amores improdutivos
Aqueles que não rendem uma vírgula
Um título sequer
Aqueles que não podem ser contados em sílabas simétricas

Que não podem ser manchados pelo mijo
dourado (sorriso amarelado)
Icterícia das palavras

E nem podem ser vendidos nas estantes da livraria

Feminina

Tais belos músculos o que serão
Senão a prisão d'alma, meu amado?

(quanto mais fortes os músculos
mais inquebrantáveis grades!)

Abrigar-me-ei nos teus braços e aflita
Segredarei o caminho da liberadade

Quando puderes voar
Lançaremo-nos rasantes.

(Gu)

Manuel Bandeira no Céu

Quando o Manu se encantou
(ele que, anjos viu, nos vermes)
Os vermezinhos tão gratos
Logo foram libertando
Sua alma com muito afeto

Até que o Manu subiu
Que nem fosse balãozinho
Na noite de São João
Alumiando tudinho!

E chegou no Céu, sem-jeito,
Chamando Deus de Senhor
Foi quando Ele secundou:
-Fala assim, não, meu caboclo,
Que me sinto muito velho.

(Gu)

Edipiano

Foram verruguentas desilusões
Estouraste todos os meus balões

Quebraste todos meus lápis de cor
Pisaste bem forte na minha flor

Não me venhas com teus doces, teus sóis
Não beijo mais tuas iscas - anzóis.

Sai com essa envelhecida alegria
Se a noite a acompanha, pra que o dia?

Chega... que quero re-provar teu beijo
De sabor de goiabada com queijo...

(Gu)

quinta-feira, 5 de abril de 2007

A fome

Eu co-ria, correndo, pra criança que sorria, so-rindo, no nosso metrô
Ela sempre_ssa eu nessa de ter presa. A pressa do mundinho de São Paulo.
Mas tudo vai tão bem que quem fo(r)me dizer o que é, eu respondo:
Sou e sou feliz so-rindo como a criança num esbaldar-me de rir!
(E quero muito almoçar ao lado dela!)

(biel)

quarta-feira, 4 de abril de 2007

A partida

Um carro avançou sobre os cavalos
Um dirigível atropelou uma velhinha
Uma nuvem caiu na minha piscina
Um dragão queimou o meu churrasco
Um vândalo me beijou
Uma vaca tossiu
E uma menina pegou um táxi.

E tudo isso ao mesmo tempo
E tudo isso na minha cabeça
E tudo isso aconteceu
E tudo isso era loucura
E tudo isso era eu
E tudo isso quando ela entrou no táxi.

(biel)

A ave que não pode ser nomeada

As nuvens avançam sobre mim
Como tigres insolúveis no ácido das minhas mágoas.
Também no negro da min há solidão,
Se aconchegam cobras coloridas.
Dançam cobras e tigres
Num balé de todas as cores
E morto.

Varando o noturno calabouço das ruas
Talvez desvencilhada do Sol
Ou da estrela maior e mais vital do universo
A cada batida de suas asas
Explosão de vida
E no seu canto, a paz mais poderosa e luminosa,
O acalanto mais feliz!

(biel)

domingo, 1 de abril de 2007

Embolada pra Bia

Pois é agora que eu digo
Ninguém mais me põe calado
Pra quem tiver bom ouvido
Além do rabo encurtado:

-A Biboca é um perigo...
Os óio todo estrelado
As fulô do verde pino
Inveja os assafirado

-A Biboca é um colorido
Linda pra qualquer agrado
Fica quieto os passarinho
Se ela aparece um bocado

Pois agora eu abro o bico
Todos dente destravado:
-Deus esteja bem contigo
E eu, indigno, ao seu lado.

(Gu)

Alexandrino irônico

A Lu coleciona moedas de um centavo.
Ai, que não vale nem um centavo esse Gustavo...
Ser ou star?

(Gu)

saudade...

sal dá de
varejo
nos olhos
se não
te vejo

(Gu)

sábado, 31 de março de 2007

Despertar da primavera

-Sonhos! Sonhos, sonhos são
apenas ilusão
espalhada pelo chão!
-não! assim não pode ser
me fale um pouco de você
ah! eu quero te aprender

porque...

o céu cravejado com o negrume dos teus olhos
sorriu pra mim
as areias do deserto que cercavam tua alma
tiveram fim
enfim

- eu tenho medo
eu tenho medo de te ter
e ter que te perder
-eu não sei o que me deu
mas não vou te perder!

em você demora o meu querer
-e você a diferença pode ser

a nuvem que vagava carregada de tristeza
enfim choveu
o jardim de folhas mortas com um monte de vampiros
floresceu

e a primavera se deu
nos seus olhos

e um pouco mais além

e uma flor se abre no Japão.

(biel)

Meu Erro

A erroneidade dos amores fáceis
Criptografa o Amor.

Atenta a tantos erros
(tanto assim já foi erro!)
Me encontro perdida
Salva do vazio pela amizade

Nublam-me seus olhos
Pouco me vêem além
(máscaras que teus olhos me dão)

E o caminho errado é sempre o mais fácil.

(biel)

Há Abismos

Há abismos no caminho
Fios, eletrônica, máquina,
Quero-te toda, inteira, perto.
Ver-te suaviza a visão do mundo.
Cansei de beijar o telefone depois que você desliga.

(biel)

Meus delírios

Talvez em delírio
Eu tenha visto
Cena tão linda
Incompreensível aos olhos dos homens

Talvez em delírio
Eu tenha visto
Um brilho em seu olhar
No canto, quase nulo

Talvez em delírio
Eu tenha o desejo
De ligar os pontos que não saem de si
E assim me encontrar

Por meus delírios
Eu vivo
Em delírios de febre
Que tenho por ti
Por teu corpo


Talvez em delírio
Eu tenha perdido a essência de mim mesma
Por ter me procurado
E ter te achado.

(biel)

A morte das palavras de amor

As palavras de amor
Saem tão lindas de seus lábios
E morrem mornas nos meus
Pois não são pra mim.

(biel)

No espelho

Te encontrar
Bem mais perto de mim
Do que eu mesma
Ressuscita-me numa vazante
Numa jorrante hemorrágica fumegante
Redescubro-me em ti
Como num espelho:
- Saia já do espelho!
Invada o meu desespero!
Atenda o meu apelo!
Pelo amor de Deus!

(biel)

Poema perdido

Como ele é lindo
Direto e simples e exagerado
Sem exageros
Ele soa como tudo
Dentro de mim
Gabriel é um anjo
Tudo é suave
Nos estrondos da caneta de Garcia Márquez.

(biel)

Cadê o final feliz?

Hoje ela me ligou.
Pairei sobe as nuvens rosas
Vesti-me de rosa
Invadiu-me um ar de conto de fada
Devíamos ser cor de rosa
Seríamos felizes para sempre
Ao lado dela
Meu amor me eleva
Até um estado de hemorragia
Numa vazante interna imperceptível prá ela..
Um suicídio a mais
Pra mim.

(biel)

O encontro

Quando ela desfila
Despercebida da multidão que a rodeia
Cria um novo padrão de beleza
No qual se faz único exemplo

Seus olhos exalam
O mais doce perfume luminoso
Refletindo sua alma
Tal que quando pensa em vir
Já aguardo sua chegada

Em suaves melodias
Dançam seus cabelos
E a pele deslizante esmorenada
Lança-me olhares convidativos

Na chuva quando brinca
Se divertindo com as poças
Não há Elis mais Elis que ela
Não assim tão singela
Que me apaixone mais

Mas há nela mais que ela
Pois nela vivo eu mesma
E eu quero sempre me encontrar.

(biel)

A mais tortuosa e difícil vereda

E a vida explodiu no vazio
E aí venho eu
Numa amálgama com o meio
No vão do vácuo vital

Recorrendo a recursos místicos
Transcende a barreira do inexistente
Atinge em cheio meu peito medroso
E o temor escorre entre minhas pernas

O amor H
Na fusão de um mesmo núcleo
Une o teu e o meu mundo
Na nossa vida

Agora preenchida
Pelo encontro das veredas mais tortuosas e difíceis
Pelo esforço da transcendência do amor
Ao me levar a mim mesma em ti.

(biel)

Ilusão

Eu vi você nadando
Naquele leito seco de rio
Onde eu antes me afoguei
Com as mãos fugidias das minhas
E lembrei daquele verão
Que os teus beijos esquentavam
Quando suas mãos sombreavam meu corpo
E enfim nossas vidas encontradas
Lembrei também da mentira
Da ilusão de ótica
E da ilusão das lembranças.

(biel)

A natureza

A pele deslizante
Feito águas de rio manso esmorenado
Enchenteando um olhar calmoterno

Cada elemento teu
Era uma característica da natureza
(face feminina de Deus)

Mas daqui de baixo
Meu olhar estático perdeu minha alma
Que voa com os anjos ao teu redor.

(biel)

Sua falta

Tua ausência
Pela primeira vez
Tanta angustia me causou

O relógio não andou
E três anos se passaram
Três eternidades...

E eu vim
Louca prá te ver
Prá te abraçar

E não vieste
Mas a gente espera o amanhã
Mais um dia, um ano, uma eternidade...

(biel)

Aceitação do amor

Minha vida leve flutua
Linda e louca
Ah! Lá vem Elis
Ah! Lá vou Clarice
Tão mal chego a ela
E ela me abraça, que delícia
Sim eu amo Elis
Com todas as letras
Com as letras das melodias
Com o mel das abelhas
Com a intensidade suave da lua
Com a face dela livrando minha alma
Limpando as impurezas almísticas
Linda.

No balanço de seus passos
Flutua leve minha alma.
No brilho do seu sorriso
Morre um beijo meu, louco pra nascer
Eu te espero Elis
Eu espero até que olhes
Eu espero até que sintas
Quão linda flutua nossa vida
E a minha de eterno encontro a tua...
Linda, leve, flutuante e louca Elis.

(biel)

Necessidade

Por onde vagueiam meus eus ?
Por onde passeiam os teus?
Os meus em topos de montanhas
Os teus em mim

Me adivinho ao teu lado
Te adivinho adentrando minha casa
E como se fosse encantado
Toco o vazio e sinto você

Tão dentro de mim
Que já tenho-te comigo
E não preciso tê-la presente
Mas necessito vê-la feliz.

(biel)