sábado, 12 de novembro de 2011

Coreographia II

A José Silvério

I

Pai do Gol, esposo da Bola,
Coreographo na vitrola,

Asceta do verbo e do rádio,
Aedo das liças no estádio,

Irradiador ou irradiante?
Ou radioativo reboante?

Raio: a luz que emana de um foco
E se alastra em nós em voz e fogo.

II

Se a bola rola, vibra o canto;
Gládio em campo, voz de comando.

Se de trivela, arqueia o entoo;
E se chapela, alça-o em voo.

Bicicleta, manobra-a em dós;
Defende a meta, fecha a voz.

Cobra o pênalti, tom suspeito...
Se estufa a rede, estufa o peito!


III

E que golaço! E que golaço!
De cabeça, voleio ou braço.

Com artilheiros, tanto gol,
Mas foi você quem os marcou.

Em uma só voz, nossa vista
Mais corada, e atenta, e imprevista.

Em uma só voz, nosso grito
Intensificado: negrito.

IV

Pra cantar, mister é escoltar
Rodopios e curvas no ar.

– E quem me ensinou foi você,
Ainda antes de Mallarmé,

E de Orides, e de Foucault,
Eu menino, em colo do Vô –

Pra cantar: sílabas na cola
Da dança insurgente da Bola.

(Gustavo de Paula)