segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Natureza viva (ou paisagem)

Poema sobre fotografia (15x13)
no mesmo horizonte
a natureza se duplica
vermelho sobre cinza,
o rosto virado ao mar
o olhar que não ignora,
já esnoba
na pose no retrato
já não há medo,

vermelho sobre cinza,
peito aberto
devastadora onda
revolvendo leitos
lançando aos rochedos frotas inteiras

(vermelho sobre cinza)
a um breve leve toque
suave o sal sossega
se adoça
se acanha
e banha
a praia dos pés

onde a natureza se duplica
te sobressais
e sobre os sais
vermelho sobre cinza
posas ao retrato do infinito

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Do mar

Um traço de rosto familiar é estrela suficiente
nau sobre as águas
nuas
nada

tracejando a superfície
espalhada
à suavidade noturna
nua
nada

conto estrelas
guio estrelas
para encontrar-te à chegada
nua
nado

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

líquidos perfumes

Sereia com asas
cantava profundezas
flertar com Hades
para
desposar Poseidon
causar a discórdia no de dentro do mundo

No trato com zéfiro
percorrer a superfícies das águas
espalhando doces perfumes
espelhando uma dança com Narciso
separando-se de Poseidon
salivando o celebrado e irresistível canto

O paladar aguçado para os gostos da vida
o toque de cetim na palavra que quase repousa sobre a língua

Pedras, rochas e areia
Tornava tudo tão seu

uma profusão de palavras
vogais
consoantes e separações
silábicas
arque-
-estradas para um bem diferente
destino

Nas asas
a sereia bailava
Nas águas,
se encantava
Na terra,
pérola
aos porcos

terça-feira, 28 de agosto de 2012

COTIDIANO II

A cada dia
dia após dia
eu me repito
de uma forma
ex-at-am-en-te
igual:
historia mal contada
piada de mal gosto
um final repetido
por amor às causas
todas elas
perdidas

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Minha roma

Incendeio a cidade com os sóis das constelações do teu corpo
Nero, com a lira na ponta dos dedos
vejo queimar
ouço os gritos
vejo os corpos se retorcerem consumidos

Olha pra baixo e vejo as estrelas
e nas estrelas me atiro
lambo os sóis que despontam no universo
e neles me afogo, me curo e incendeio
a cidade
concreta
derrete

terça-feira, 31 de julho de 2012

SUPERFÍCIE

Chega em casa
e relaxa
de vagar

descalço já
procura
o espelho mais próximo
te contempla
uns instantes
inveja
aquele que te olha

mas não por muito...

atira-o ao chão
sem mais pesar
caminha sobre ele
deixe-o a tuas imagens e semelhanças
desenhadas
impressas
em vermelho tudo fica tão bonito

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Quando ela passa

Sugiro o sorriso de Mona Lisa
assim mesmo, de leve,
e sorrio, um pouco demais.

Do outro lado, ela enlouquece
faísca de raiva, uma raiva bege que ferve sobre sua pele negra e bonita.

Do lado de cá, o sorriso diminui,
agora sim, Mona Lisa!

Atravesso a avenida e, do canteiro central,
me volto
a tempo
de ver a expressão atenuar-se num insulto do olhar
meio de lado, mas sempre superior.

Contento-me com o horizonte,
concreto,
onde aquelas asas batem
asas negras
que de todo me abraçarão no sonho
do outro lado da avenida.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

e é um nome,
estranho nome.
deus?
deusa?
- veja,
a questão não está, deveras, no nome,
mas na indelével graphia com que me gravas
nos incólumes muros da tua cidade.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Na ponte

Lá do fundo do abismo
onde beira a incerteza
na calada da vertigem
a secreta correnteza

O espelho d'água dos teus olhos iluminados
de profunda escuridão
desabam
avalanche no verso em construção

lá do fundo do abismo
onde beira a incerteza
na calada da vertigem
a secreta correnteza

O convite dos teus olhos iluminados
de profunda escuridão
desabam
avalanche no homem em construção

lá do fundo do abismo
onde beira a incerteza
na calada da vertigem
a secreta correnteza

O grito dos teus olhos iluminados
de profunda escuridão
desabam
convites aos meus olhos em construção

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Num hiato da palavra
num abismo do som
num vácuo vocal
consoante muda
dissonante
hora H
bomba H