terça-feira, 18 de outubro de 2011

da relva

olho a jabuticaba
e é como se me
olhasse de volta
da casca reluzente

súbito, empalideço
coração dispara
sim, ela me olha
e quer me devorar


(biel)

domingo, 16 de outubro de 2011

Soneto das orientações curriculares I

Toda manhã, tão fresca e pontual,
É servida, na escola – hm... saliva! –,
A bosta do prefeito. Sem igual:
Mais cheirosa, e gostosa, e nutritiva.

É obrigatória, a refeição, com sal;
Mas, quando chega, quem não grita “Viva!”?
Queixas, apenas no atraso da tal.
Afinal, se o governo no-la priva,

Como ensinar pro aluno assunto algum?
Daí uma alternativa incomum,
Nos assaltos de uma febre terçã:

Se convertêssemo-nos ao Islã,
Todos anos, no mês do Ramadã,
Faríamos jejum, jejum, jejum...

(Pau no Gu)

domingo, 9 de outubro de 2011

Soneto do totalitarismo I

Toda. Claro. Sob hipótese alguma.
Nunca. Conforme. Bem. De todo modo.
Com sorte. Era uma vez. Além. Nenhuma.
Todos. Em condições tais que. Ou. Logo.
Concordo. Não. Jamais. Nenhum. Contudo.
Em tempo algum. Decerto. Logo mais.
Sempre. Por conseguinte. Mas. Sim. Tudo.
Sem cessar. Frequentemente. Sem mais.
Segundo. Em todo caso. Vê. Por isso.
Todo tempo. Em virtude de. Porquanto.
Senão vejamos. Bem. Por falar nisso.
Isso. Sem dúvida. Por que. Contanto.

Ora. Às vezes. Em qualquer ocasião.
Afinal. Em razão de. Exceção.

(Pau no Gu)

domingo, 2 de outubro de 2011

Soneto da ação comunicativa I

O professor agarrado a seu giz,
E os guris explodindo seus hormônios;
Firme no giz espesso, mãos febris,
E os guris depredando o patrimônio;

Risca cada letrinha, mãos sutis,
E, aos murros, os guris, com mil demônios;
Jardina toda letrinha de lis,
Rega-as de sangue, os guris, quais lacônios.

Soa o alarme de incêndio na escola.
Filho da puta! Abre a porta, veado!
Antes, em Plínio, o Jovem, um floreado.

Rombo e berro: emancipação carola.
Cuidando o fogo achar Plínio frajola,
Professor morre junto ao namorado.

(Pau no Gu)