terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Fragmentos de um diálogo amoroso

L. (30/11/2009) diz: - Ah, eu acho que você ainda é garoto... ainda um pouco imaturo... Não pelas coisas que você diz, que você pensa e que você sente, mas pelas experiências mesmas de vida...
A coordenadora A.C. (01/12/2009) diz: - Nossa, Gustavo, você fica bem de verde!

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L. diz: - Ah, mas você tem uma coisa que eu acho legal, que é a sensibilidade poética. (...) Ainda não muito na sua fala, mas já na sua escrita.
O professor J.A.H. diz: - Um dia, assaltaram minha casa. Amarraram minha esposa, meus filhos e a mim mesmo. Me amarraram ao pé da escada que fica na minha biblioteca. Comecei a rir. Vieram me bater. Perguntaram gritando: "Você está rindo da minha cara?". Respondi que não, que "jamais iria rir do senhor, estou rindo de uma piada pessoal mesmo". Bem a minha frente, na estante, estava o livro de Jean-Paul Sartre: "O que pode a literatura?"

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L. diz: - É que nossas vidas são muito diferentes, nossas experiências foram outras.
L. dissera, há uns 20 minutos atrás: - Ainda não sei direito, porque estou namorando com um cara que tá mudando de pátria, que tá mudando de língua, que tá longe da família.

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O artista C.V. diz: - Se você tem uma idéia incrível, é melhor escrever um post; está provado que só é possível namorar em alemão.

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L. diz: - Eu não acredito em relacionamentos.
O personagem conceitual Z., do filósofo alemão F.N., diz: - A mim, a fé não me beatifica. Muito menos, a fé em mim.

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L. diz: - Isso não me comove.

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Os professores do Sul T.T.S. e S.M.C. dizem: - Advogar, em vez disso, o dissenso inconciliável, a diferença irredutível, o desencontro irremediável, a comunicação impossível.

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L. diz: - Os homens sempre falam isso - e podem até ser sinceros quando dizem -, mas depois acabam desistindo. - Muitas coisas, depois de um tempo, ficam previsíveis.

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Mais uma vez, os professores T.T.S. e S.M.C. dizem: - Toda continuidade é apenas o efeito de uma interpretação após o fato. O que temos, em vez disso, são falhas, quebras, hesitações, movimentos inesperados, arranques e paradas abruptas. Não uma lógica, nem uma teleologia, mas o movimento errático do acaso.

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L. diz. Não diz. Prefiro excluir esta fala, em minha edição cafajeste.

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A professora de História diz: - Nazismo é uma política e uma ética herdadas da Alemanha.

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O professor carioca L.A.B. diz: - O modo de vida fascista elimina o susto e o arrebatamento.

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O poeta P.L. diz: Só doer não é dor/ Delícia de experimentador.

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A escritora dentre as escritoras, C.L., na voz de M., diz: - Eu me dôo o tempo todo.

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Engrossando o caldo da Introdução à vida não-fascista, o professor da FEUSP J.G.A. diz: - Não enxergue, no outro, a carência, a falta, nem o exótico, nem o excêntrico.

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Eu, G.H.G, digo: - Eu escrevo, porque me dói. Uma dor alegre, se quiserem. Mas ainda dor. Cavalar. Claro que escrever não é remédio, não cura a dor, não assopra a ferida. Isso não, por favor! Mas é menos miserável, me parece, do que esta vida indigna que foi, e que é, e que vai ser até o fim. Escrevo pela grandeza do que pode ser. Pela grandeza do que não sei.

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Ainda o professor J.G.A. diz: - Não fale pelo outro. E editar também é falar pelo outro.

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Xi...

(Gu)

2 comentários:

*Cris*Rosa-dos-Ventos* disse...

Amei a montagem perfeita de falas e intertextos... e também o que diz L. que os homens podem até ser sinceros no começo, mas não há continuidade depois... haha
E tb mto bonito o que vc escreve, sobre escrever por uma dor cavalar. Céus, eu sei o que é isso. E sim, é mto digno.

Frau Forster disse...

um turbilhão de idéias, palavras e sensações - muito bom :)