quinta-feira, 18 de setembro de 2008

inverno

sonhavamo-nos com doces remelas,
era doce o sal dos olhos,
eram incólumes os sonhos,
mas no horizonte a estrada
e a lágrima congelada.

não hei de amar uma pedra.
renegarei o gelo do meu olhar.
não sou o superman a voar,
mas sobre a escuridão
voa de leve (em breve) um avião.

(biel)

tercetos secretos II

não são os olhos
nem mesmo o rosto
talvez a barriguinha

ela nem é tanto assim
mas quando ela fala
o mundinho todo se cala

todo o mundinho do meu coração
se cala
todinho ela acalma

(biel)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

manhã

é
o amor coçando a barriga
de chinelo, na cozinha
e de saia escocesa
valsando com a borboleta

se esconde-esconde
no xampu de damasco,
mas meio volta
volta e meio no cacho
inda molhado, inda antes da chapinha,
inda antes do clarão do meio-dia

mais um olhar, mais um raio
mais uma cor, mais um quadro
mais um lar, mais um lábio

é
o amor crescendo,
na barriga,
chovendo na mercearia,
no apartamento, na gravura,
- nem adianta guarda-chuva

corre-corre
e o lencinho no chão?
corre-corre,
e pega-pega a minha mão!

três tigres tristes,
zigue zigue ziguezá,
corram pra casa
que a cuca vem pegar

mais uma flor, mais um parto
mais um par, mais um passo
mais uma dor, mais um maio

(Letra de música - Gu)

Excerto de relatório de estágio

DA PROFESSORA:

Não se saberá que descaminhos me trouxeram aqui, mas se alguém, aliás, souber, pode me contar, em sendo da vontade, um dia, mas pra quê tantos seios?
Ela parece minha esposa. E tem muitos anos já, de vida; o que faz parecer também que eu sou casado de longa data. E eu olho ela ardendo, como se fosse e sendo virgem. Parecemos pais, durante 5 horas diárias, de muitas crianças.
Ela é tão linda mãe... Rigidamente linda, carrancudamente linda, severamente linda, amorosamente linda. Tem solução pra tudo, ela! E não é, assim, que ela fique pensando pensando e ache uma solução: mal o problema quis acenar existência, de longe, e ela já resolveu.
Podia bem ser minha mãe também.
Ela traz marcas, na barriga, nítidas de que já foi mãe. Duas vezes. Tamanhamente sensuais os sinais de gravidez. Eu é que não queria uma mulher que não fosse mãe! Aquela chapação de barriga: eca! Tô é fora! Às vezes, dá pra ver um pouquinho da barriga.
Isso tudo porque vocês não viram as mãos dela! Era, um dia, ela passando cola nos cartazes com as mãos nuas. Aí foi que a mão dela ficou linda no seu esplendor. O branco da cola no branco das unhas sem esmalte no moreno da pele. Eu queria mais que ela me pegasse aquela hora e que a cola grudasse mais pra sempre.
Mas pra quê tantos seios?
Gosto quando ela escreve na lousa. Ela anda rebolando rebolando rebolando... Mesmo se caminha pra dar bronca.
Quando ela aparece, todo mundo fica em silêncio. E querendo ouvir e aprender. Ela é tão mas tão mãe, e tão linda mãe, que, na minha ausência, ela vira pai também. E eu até tô aprendo a ser pai, crê? Aprendendo, a duríssimas penas, a deixar de apenas amar, apenas sorrir, apenas chorar, apenas ser amigo, aprendendo a ser pai.
Ela fala o tempo inteirinho, mas não consigo ouvir metade do que ela diz. É porque ela diz muito mais fazendo que falando. Fazendo. Aí eu ouço. Com toda a atenção. Ouço ela se cansando e superando o cansaço, ouço ela rindo, ouço ela fazendo o que ninguém mais faz. Nem ouve? Nem houve?
Quando ela cruza os braços, sobram sobre os braços os tantos seios de quem já amamentou, enquanto a barriga de quem já engravidou por 18 meses sobra sob os braços. Eu queria morder ela todinha. Devorar ela. Até não sobrar sombra. Fazer ninho pra ela na minha cama.
Queria cozinhar pra ela, lavar sua calcinha e seu sutiã. Ser a esposa dela. Queria fazer blusa de lã, pra esquentar ela naquela sala fria. Bordar seu sutiã. Medir o tamanho do sutiã. Calcular o tamanho. Espremer tudo aquilo numa fórmula.

(Gu)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

quadrilha azul

não alcançam
as mãos do mar
o abraço
do seu olhar

(biel)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Spleen

Sabe o que era bão?
Saber avoar...
Sair desse chão
Subir vagarinho
Pois não de avião
Mas com os passarinho
Ou com um balão
Chegar no seu ninho
Todo bonitão.

E se não tem alma:
Ir pro seu caixão,
calar a matraca,
comer seu coração,
soterrar na vala
tal vida de não!

(Gu)